Entenda por que fazer terapia de manhã pode ser mais eficaz
Um novo estudo sugere que os altos níveis matinais de de cortisol, hormônio ligado ao medo e ao stress, contribuem para a supressão de memórias angustiantes
Se você faz terapia para tratar ansiedade ou uma fobia, optar por sessões pela manhã pode ser mais efetivo para o tratamento. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica Psychoneuroendocrinology, esse é período do dia em que o nível de cortisol, hormônio que regula o estresse e medo e que estaria ligado à supressão de memórias angustiantes e a facilitar a aprendizagem corretiva, está mais alto no organismo e isso pode ajudar na superação de dificuldades emocionais.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores das Universidades Southern Methodist e de Michigan, ambas nos Estados Unidos, analisaram 24 pacientes com distúrbios de pânico e agorafobia, medo de lugares públicos, segundo informações da revista americana Time. Ao longo de três semanas os participantes realizaram sessões semanais de um tratamento chamado terapia de exposição, durante o qual foram expostos a diversas situações como edifícios altos, rodovias, elevadores, supermercados, cinemas e transportes públicos.
Na terapia de exposição os pacientes são colocados repetidamente em situações que causariam pânico ou medo. O objetivo é, ao longo do tempo, diminuir o stress e o desconforto. “Por exemplo, um paciente pode pensar que pode perder o controle, sufocar ou desmaiar ao simplesmente ficar em pé em um elevador. Ao colocá-lo no elevador por um tempo prolongado, apesar dos altos níveis de ansiedade gerados, o paciente aprende que esse desfecho temido não vai ocorrer. Chamamos isso de aprendizagem corretiva.”, explicou Alicia E. Meuret, diretora do Centro de Pesquisa em Depressão e Ansiedade da Universidades Southern Methodist e uma das autoras do estudo.
Os resultados do experimento mostraram que, em geral, os participantes apresentaram melhora independentemente da hora do dia das sessões. Mas, os maiores ganhos foram alcançados durante as consultas realizadas pela manhã. Na sessão seguinte à consulta pela manhã, os participantes obtiveram as menores pontuações em testes que avaliavam sensação de ameaça, comportamento de evitação e gravidade dos sintomas de pânico. Eles também sentiram que tinham maior controle sobre seus sintomas de pânico.
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Os autores ressaltam que outros fatores além do cortisol, como ritmo circadiano ou a qualidade e a quantidade de sono também podem influenciar a eficácia da terapia logo cedo. Mas níveis mais altos de cortisol também foram relacionados a melhores resultados em outros períodos do dia, não só pela manhã – os pesquisadores colheram amostras de saliva dos participantes durante todas as sessões para medir o nível do hormônio. Segundo eles, isso sugere que o hormônio é pelo menos parcialmente responsável pelo desempenho pela manhã.
Segundo Alicia, medicamentos que imitam esse efeito de “extinção” do medo provocado pelo cortisol já estão em desenvolvimento, mas, por enquanto, não há nada concreto. Até lá, ela diz “os resultados do nosso estudo sugerem tirar proveito de dois agentes simples e naturais que são o cortisol e a hora do dia”. Mesmo que não seja possível agendar sessões pela manhã, como a terapia de exposição envolve “dever de casa”, é possível tentar fazer essa atividade nesse período, por exemplo.
A autora ressalta também que, como o estudo analisou um tipo muito específico de psicoterapia, não é possível afirmar que os resultados sejam o mesmo para outros tratamentos cognitivo-comportamentais como a terapia da conversa, por exemplo. Mas, como “a maioria das terapias para a ansiedade objetivam o aprendizado de informações novas e corretivas” é possível que consultas pela manhã tragam melhores resultados.
Embora mais estudos sejam necessários, ela afirma que “nossos dados, em conjunto com dados de estudos de aprendizagem e memória, sugerem que deve haver um benefício em praticar a terapia de conversa no período da manhã. Evidências mostram que a psicoterapia trabalha com a aprendizagem de novas informações e estudos de memória geralmente sugerem que a aprendizagem é melhor na parte da manhã.”, disse à revista americana Real Simple.