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E não é que deu tudo certo?

Apesar das maluquices da “octomãe”, que o mundo todo acompanhou, os únicos óctuplos vivos vão completar 10 anos — felizes e saudáveis

Por Fernanda Thedim
Atualizado em 11 jan 2019, 07h00 - Publicado em 11 jan 2019, 07h00

Oito crianças — duas meninas e seis meninos — pouco parecidas entre si levam uma vida normal na cidadezinha de Laguna Niguel, a 80 quilômetros de Los Angeles, na Califórnia. Acordam às 6h20, seguem para a escola (estão na 4ª série), ajudam nas tarefas domésticas, fazem o dever de casa e vão dormir às 20h30. Riem, brincam e movimentam-se pelos cômodos de móveis bastante usados e algumas paredes descascando. Todos são meio miúdos para a idade — 10 anos, a ser completados no dia 26 de janeiro. Pois é: os célebres óctuplos californianos, que há uma década monopolizaram atenções no mundo inteiro pelo ineditismo de seu nascimento e pela dimensão de reality show que sua trajetória assumiu, vão muito bem, obrigado. Continuam morando com a “octomãe” Natalie (ex­-Nadya) Suleman, de 43 anos e solteira, e com os seis irmãos que ela havia gerado antes, sempre por inseminação artificial. Permanecem o único caso conhecido de óctuplos vivos, façanha espantosa quando se leva em conta seu turbulento início de vida.

As crianças são fruto de um processo de fertilização in vitro realizado em 2008 pelo médico Michael Kamrava, iraniano radicado em Beverly Hills, especialista em reprodução com trinta anos de experiência e responsável por todas as gestações anteriores de Natalie (a primeira foi em 2001). Ela afirma que só queria ter um casal mas Kamrava a induziu a aceitar o implante de doze embriões; ele, ao contrário, garante que só aceitou realizar um procedimento que contraria todas as recomendações médicas porque ela o pressionou muito.

Kamrava acabou expulso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva após o episódio e deixou o país. Dos doze embriões, oito vingaram e progrediram em uma gravidez de altíssimo risco para a mãe e os bebês. Os óctuplos nasceram de 7 meses, de cesariana — para a qual foram recrutados 46 médicos e enfermeiros —, pesando entre 680 gramas e 1,5 quilo. Em volta do hospital, a imprensa em massa seguia cada segundo do parto da octomãe, àquela altura uma celebridade empenhadíssima em exibir a barriga desproporcional. Em meio a acusações de ser uma mãe irresponsável que nem emprego tinha, Natalie tirou todo o proveito possível de sua condição. Apareceu em programas de TV, vendeu fotos e entrevistas e fez plásticas, muitas plásticas, em nome, segundo os tabloides, da obsessão de ficar parecida com Angelina Jolie (o que ela nega de pés juntos).

À medida que o interesse do público pela octomãe foi rareando e o dinheiro minguando, Natalie ampliou sua área de atuação para filmes pornô e shows em boates de striptease. “Estávamos a ponto de nos tornar uma família sem teto. Em vez de expor meus filhos, preferi expor a mim mesma”, justifica ela em reportagem publicada pelo jornal The New York Times, que localizou e fotografou a família. A certa altura, Natalie internou-se para tratar do vício em álcool e drogas. Ela refuta qualquer insinuação de exploração indevida das crianças. Pelo contrário: “Sofro de stress pós-traumático por causa do assédio dos repórteres ao longo destes anos”. Com certo orgulho, enumera as mazelas da última gravidez: quatro dos cinco discos da coluna lombar rompidos, dores nas costas, insensibilidade nas extremidades. Como qualifica todos os medicamentos de “veneno”, trata-se com exercício físico — é fã de meias maratonas e sobe 60 quilômetros por semana em um simulador de escada.

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Formada em desenvolvimento infantil, Natalie conta que faz trabalho social, mas não diz onde, e se sustenta com pensões do governo e contratos de fotos. A família é vegetariana radical, as crianças se revezam no fogão (“Eu detesto cozinhar”, confessa a octomãe) e na mesa de jantar, e todos dispõem de uma rede de amigos e familiares para ajudar nas horas difíceis. Natalie compartilha alguns momentos dos catorze filhos no Instagram — ela tem pouco mais de 57 000 seguidores. Há fotos e vídeos das crianças brincando em casa, fazendo compras no mercado, correndo na praia, participando de uma corrida de rua, divertindo-se na piscina e vestidas a caráter em uma festa a fantasia. Aparentemente, são crianças alegres, felizes e sorridentes, apesar de tudo. Amerah, de 16 anos, a mais velha da prole e uma espécie de segunda mãe “dos oito”, como são chamados, pensa inclusive em ter uma família grande. “Não catorze. Quatro é um bom número.” A octomãe, quem diria, está fazendo um bom trabalho.

Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

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