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Detecção precoce do câncer de mama reduz custos, mas esbarra em desinformação

Cerca de 31% das brasileiras estão desinformadas sobre a doença enquanto apenas 16% realizaram testes genéticos, destacando a necessidade de educação em saúde

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 out 2024, 18h52
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  • Embora os números de casos de câncer de mama no Brasil sejam preocupantes, com cerca de 66.280 novos casos estimados para 2024, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), um fator agrava ainda mais essa situação: o diagnóstico tardio. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), aproximadamente 60% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e reduz as chances de cura. Esse cenário é desafiador, pois a detecção precoce é fundamental para aumentar as chances de cura e reduzir os custos com tratamentos complexos.

    Um estudo da Sandbox Data for Health, empresa especializada em dados e estatísticas de saúde, revela que a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama vai além dos benefícios à saúde das pacientes.

    Analisando mais de 8.650 casos ao longo de cinco anos, o levantamento aponta que, quando o câncer de mama é detectado nos estágios iniciais, os custos do tratamento são significativamente menores. Os procedimentos menos invasivos, como a quadrantectomia (cirurgia apenas na região do tumor), utilizados em diagnósticos precoces, apresentam um custo médio de R$ 7.783,70. Em contrapartida, a mastectomia, indicada para casos mais avançados, teve um custo médio de R$ 13.408,80 no mesmo período.

    Alexandre Vieira, diretor médico e científico da Sandbox, ressalta que esses valores aumentam consideravelmente quando tratamentos complementares são necessários. “Além do procedimento cirúrgico, o câncer de mama em estágios avançados costuma exigir quimioterapia, radioterapia e outros tratamentos que elevam ainda mais os custos para o sistema de saúde”, explica.

    Além disso, a pesquisa aponta disparidades regionais no Brasil. Enquanto o tempo médio de internação para uma mastectomia em São Paulo é de 1,35 dias, no Tocantins essa média sobe para 2,33 dias, evidenciando desigualdades no acesso e tratamento da doença em diferentes regiões do país.

    Desinformação sobre subtipos da doença

    Uma pesquisa recente do Datafolha, encomendada pela biofarmacêutica AstraZeneca, revela que 56% das mulheres brasileiras diagnosticadas com câncer de mama não conhecem o subtipo da doença que possuem. Essa falta de informação é alarmante, pois, segundo Maira Caleffi, médica mastologista e presidente fundadora da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), “uma vez confirmado o diagnóstico, é imprescindível conhecer o subtipo da doença, o que possibilitará personalizar o tratamento”.

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    Os subtipos do câncer de mama incluem luminal (hormônio positivo), HER-2 positivo e triplo-negativo. Conhecer o subtipo é crucial para que as pacientes possam entender melhor suas opções de tratamento e os riscos associados a cada um deles.

    Entre as pacientes que têm conhecimento sobre seu subtipo, 70% buscam informações adicionais, destacando que os médicos (45%) e o Google (33%) são as fontes mais citadas. Apenas 16% delas tenham relatado ter realizado testes genéticos, uma ferramenta que poderia guiar decisões de tratamento e oferecer opções mais precisas para cada caso.

    “Tais informações costumam servir como alerta de prevenção da família no caso de constatadas mutações herdadas”, completa Maira.

    Relato pessoal

    Fabiana, 41 anos e paciente da rede pública de saúde, o SUS, compartilha sua trajetória marcada pelo câncer de mama. Diagnosticada com câncer triplo-negativo aos 23 anos, ela enfrentou desafios significativos, incluindo a dificuldade em obter um diagnóstico adequado.

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    “O mais difícil é saber que, se o teste genético fosse acessível pelo SUS, talvez minha mãe e minha irmã pudessem ter feito cirurgias preventivase evitado esses diagnósticos”, lamenta Fabiana. Sua mãe também foi diagnosticada com câncer de mama triplo-negativo, passando por mastectomia e tratamento quimioterápico, e sua irmã, diagnosticada mais tarde, teve que retirar as duas mamas.

    Após o diagnóstico inicial, Fabiana passou por quimioterapia e mastectomia radical. Recentemente, descobriu que tem mutações no gene BRCA1, fator que abre portas para novos tumores e que a levou a considerar cirurgias preventivas.

    “Descobrir o gene me deu algo novo: a chance de escolher. Antes, o tratamento era urgente, mas com a cirurgia preventiva dos ovários, pude decidir de forma mais consciente. Isso me deu mais controle e, melhor ainda, ofereceu à minha família a mesma oportunidade de escolha no futuro para prevenir e cuidar da saúde”, afirma.

    Conhecimento é um direito

    Uma pesquisa realizada pelo Instituto Natura, em parceria com a Somatório Inteligência, revela que 31% das brasileiras acima de 18 anos são consideradas desinformadas sobre o câncer de mama. O nível de desconhecimento está diretamente relacionado a fatores como escolaridade, raça, renda e sistema de saúde. Enquanto 49% das mulheres sem escolaridade têm pouco conhecimento sobre a saúde das mamas, esse índice cai para 15% entre aquelas com ensino superior completo.

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    Além disso, 25% das usuárias do SUS possuem informações adequadas sobre a doença, em contraste com 38% das usuárias do sistema privado. Daniela Grelin, diretora executiva de Direitos e Saúde das Mulheres e Comunicação Institucional do Instituto Natura, enfatiza que “as desigualdades resultam na carência de informações essenciais sobre a saúde mamária e nos mostram um quadro crítico no qual o cuidado com as mamas não é um direito compreendido e acessado para todas as brasileiras”.

    A pesquisa também destaca a preocupação com a realização de mamografias, que teve um aumento tímido em 2023 em relação aos anos anteriores, após uma queda significativa durante a pandemia. A taxa de cobertura de exames ainda é insatisfatória, atingindo apenas 23,4% do público-alvo, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma cobertura de 70%. Esses dados ressaltam a urgência de campanhas de conscientização e políticas que promovam a equidade no acesso a informações e serviços de saúde para todas as mulheres.

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