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Curioso: homem ficava ‘bêbado’ depois de consumir carboidrato

Tratamento com antibiótico causou a proliferação de fungos usados na fabricação de cerveja. Isso fez com que seu corpo transformasse carboidrato em álcool

Por Redação
Atualizado em 24 out 2019, 17h46 - Publicado em 24 out 2019, 16h24

Durante uma blitz, um homem americano foi parado e ouviu do policial que teria de fazer o teste do bafômetro. Ao se recusar a passar pelo teste por não ter ingerido nada alcoólico, ele foi detido por suspeita de dirigir “sob influência de álcool”. Ao ser lavado ao hospital, os exames mostraram que o nível de álcool no sangue dele estava em 200 mg/dL – o equivalente a consumir cerca de 10 bebidas alcoólicas. O que você pensa? Bem, ele bebeu e, por medo das consequências, mentiu dizendo que não havia bebido.

Mas a verdade é que o americano, de 46 anos, não havia ingerido nenhuma bebida alcoólica naquele dia. E por que os níveis de álcool deram elevado? De acordo com estudo publicado no periódico BMJ Open Gastroentereology, ele tem a “síndrome da fermentação intestinal” (ABS, na sigla em inglês). Pessoas que sofrem com essa condição “fabricam” álcool dentro do próprio intestino. 

No caso do americano, que não foi identificado, ele apresentava um crescimento anormal dos fungos Candida e Saccharomyces cerevisiae – este último é comumente usado na fabricação de bebidas alcoólicas, pois ajuda a fermentar os carboidratos para produzir alguns tipos de cerveja. Ou seja, sempre que ele ingeria carboidratos, o seu organismo produzida álcool. Por esse motivo, ele sofria com sintomas de embriaguez, incluindo mente turva, irritação, tristeza e lacunas de memória, mesmo sem ter bebido.

Diagnóstico de depressão

O americano começou a experimentar alguns sintomas dessa embriaguez em 2011 depois de ser medicado com antibióticos para tratar uma lesão no polegar. Como os episódios se assemelhavam a sinais de depressão, os médicos prescreveram antidepressivos e terapia psicológica. Mas os sintomas persistiram.

Apenas mais um “bêbado”

Em um outro momento, o homem foi levado ao hospital depois de caiar e sofrer um sangramento intracraniano. Na época, os exames revelaram níveis de álcool de 400 mg/dL. Ele tentou dizer que não havia ingerido bebida alcoólica, mas os médicos não acreditaram. 

Depois de ser desacreditado mais uma vez no episódio da blitz, o americano decidiu procurar ajuda na internet. Durante suas pesquisas, ele encontrou o Centro Médico Universitário de Richmond, em Nova York. Lá, os pesquisadores realizaram testes para confirmar o diagnóstico de síndrome da fermentação intestinal. Para isso, a equipe deu ele uma refeição com carboidratos e monitorou os níveis de álcool em seu sangue. Oito horas depois, constatou-se 57 mg/dL. 

Após seis anos convivendo com os sintomas desgastantes, em 2017, ele recebeu o diagnóstico correto. “É uma síndrome muito mais comum do que parece. Nos últimos dois anos, recebi entre 500 e 600 telefonemas de pessoas que dizem que sofrem com ela, e atualmente mantenho contato com cerca de 200 que foram diagnosticados”, disse Barbara Cordell, da Universidade de Panola, nos Estados Unidos, à BBC

O tratamento

Com o diagnóstico correto, ele foi tratado com uma combinação de terapias antifúngicas e probióticos para restaurar a sua flora intestinal, além de suspender o consumo de carboidratos. Apesar de ter tido uma recaída – por comer pizza e beber refrigerante sem autorização médica -, o crescimento dos fungos parecem ter sido controlados. Quase dois anos depois do início, ele já consegue manter uma dieta normal, embora precise conferir os níveis de álcool no sangue de vez em quando. 

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Casos anteriores

De acordo com Barbara, que escreveu o livro Meu intestino produz álcool (em tradução livre), diversos casos vem sendo documentados ao longo das décadas, ainda que não hajam tantos diagnósticos conhecidos. “Há um caso descrito no Japão nos anos 70, mas as primeiras descrições da doença vêm do início de 1900 e até do final do século 19”, contou Cordell.

Recentemente, pesquisa realizada pelo chinês Jing Yuan apontou para a existência de pessoas que desenvolvem excesso de gordura no fígado da mesma forma que indivíduos com problemas de alcoolismo. Isso poderia estar relacionado à síndrome.

Segundo os pesquisadores que investigaram o caso de americano, a síndrome da fermentação intestinal é uma condição pouco diagnosticada e precisa ser levada em consideração em qualquer caso em que o paciente pareça embriagado, mas nega o consumo de álcool. Isso permitiria que as pessoas recebessem o diagnóstico e o tratamento certo. 

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