‘Criamos nossa vingança contra o coronavírus’
Cientistas comemoram invenção de remédio que impede o vírus da Covid-19 de entrar nas células
Um medicamento desenvolvido por pesquisadores da Scripps Research, nos Estados Unidos, pode materializar o ditado “o feitiço virou contra o feiticeiro” para o novo coronavírus, causador da Covid-19. O remédio, chamado NMT5, envolve o vírus com substâncias químicas e o conduz para a morte, impedindo a infecção das células pelo SARS-CoV-2. O achado foi publicado na revista científica Nature Chemical Biology.
“O que é tão prazeroso sobre esse medicamento é que estamos realmente virando o vírus contra si mesmo”, disse o autor sênior Stuart Lipton, professor da instituição. “Estamos armando-o com pequenas ogivas moleculares que acabam impedindo que infectem nossas células. É a nossa vingança contra o vírus”, completou.
Os ensaios, realizados com células isoladas e animais, mostraram que o NMT5 atua em duas frentes. O medicamento tem a capacidade de reconhecer e se ligar ao novo coronavírus e de modificar quimicamente o receptor ACE2 humano, a molécula que o vírus se prende para fazer a infecção das células. Segundo comunicado divulgado pela Scripps Research, essa modificação é feita por meio de um fragmento parecido com nitroglicerina. Assim, ao se movimentar e se aproximar do ACE2, o vírus vira “um veículo de entrega para sua própria morte”. Com a mudança, a molécula tem alterações em sua estrutura por cerca de 12 horas, impedindo a infecção.
Em testes com cultura de células e a variante de preocupação ômicron, o NMT5 impediu 95% da ligação viral. Em hamsters com Covid-19, o remédio diminuiu os níveis de vírus em 100 vezes, eliminou os danos nos vasos sanguíneos nos pulmões dos animais e melhorou o processo inflamatório. A eficácia também foi comprovada com, ao menos, uma dúzia de variantes da doença, inclusive as cepas alfa, beta, gama e delta.
Um dos diferenciais do tratamento é que ele não bloqueia apenas uma parte do vírus, como ocorre na maioria dos medicamentos antivirais, o que leva o patógeno a desenvolver resistência à medicação. “Esperamos que este composto continue a ser eficaz mesmo com o surgimento de novas variantes, porque não depende de atacar partes do vírus que comumente sofrem mutação”, explicou Chang-ki Oh, cientista sênior da equipe e primeiro autor do artigo. Agora, o grupo está fazendo testes adicionais de segurança e eficácia com animais e desenvolvendo uma versão para possível uso em humanos.