Covid-19: Vacinas podem ter evitado cerca de 20 milhões de mortes
Estudo é o primeiro a quantificar o impacto da imunização em escala global e o número de mortes evitadas direta e indiretamente

As vacinas contra a Covid-19 podem ter salvado a vida de 19,8 milhões de pessoas ao redor do mundo apenas no primeiro ano de aplicação dos imunizantes, segundo estudo baseado em modelo matemático. A pesquisa, realizada por uma equipe de pesquisadores da Imperial College London, do Reino Unido, foi publicada na última quinta-feira, 23, no The Lancet Infectious Diseases.
Aproximadamente 600 mil vidas poderiam ter sido salvas se 40% da população de cada país tivesse recebido duas ou mais doses até o final de 2021, como previa a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desde a primeira aplicação da vacina, em dezembro de 2020, em torno de dois terços da população mundial recebeu pelo menos uma dose do imunizante, segundo estimativas do Our World in Data. Neste mesmo período, foram notificadas mais de 3,5 milhões de mortes por Covid-19.
Trata-se do primeiro estudo que quantificou o impacto das vacinas em escala global e que avaliou o número de mortes evitadas direta e indiretamente. Até então, outros estudos procuraram estimar o impacto das vacinações em regiões específicas.
A equipe teve como referência registros e estimativas de óbitos e excesso de mortalidade de 185 países no período de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021. O excesso de mortalidade se refere ao número total de mortes associadas direta ou indiretamente à pandemia em comparação com o número de mortes estimadas se não existisse a Covid-19.
O maior número de mortes evitadas foi encontrado em países de renda alta e média-alta, entre 12,2 milhões e 19,8 milhões, o que revela as desigualdades no acesso às vacinas.
O modelo considerou a variação nas taxas de vacinação e as diferenças na eficácia da vacina em cada país. Segundo os autores, não foram incluídos dados sobre a China em razão do elevado número populacional e da adoção de medidas de bloqueio rígidas, o que poderia distorcer os resultados.
Em uma das análises, a partir de registros oficiais de morte por Covid-19, o estudo mostrou que 18,1 milhões de mortes poderiam ter acontecido se não existisse nenhuma vacina. Estima-se que, desse número, 14,4 milhões de óbitos teriam sido evitados com a imunização, uma redução de 79% de mortes. Neste cenário, não foram consideradas as taxas de subnotificação.
Outro cálculo foi feito com base nos dados de excesso de mortalidade. Os autores descobriram que em torno de 19,8 milhões de óbitos foram evitados no primeiro ano de vacinação. Uma redução de 63% em comparação com as 31,4 milhões de mortes que poderiam ter acontecido sem a imunização.
Do total de mortes evitadas, mais de três quartos (entre 15,5 milhões e 19,8 milhões) estão relacionados com a proteção direta proporcionada pela vacinação contra sintomas graves, o que reduziu as taxas de mortalidade. Os números restantes, em torno de 4,3 milhões, devem-se à proteção indireta, ou seja, em razão da queda da transmissão do vírus na população e da redução de internações nos sistemas de saúde.
“Quantificar o impacto que a vacinação causou globalmente é um desafio porque o acesso às vacinas varia entre os países, assim como nossa compreensão de quais variantes do coronavírus estiveram circulando, com dados de sequência genética muito limitados para vários países. Também não é possível medir diretamente quantas mortes teriam ocorrido sem a vacinação. Modelos matemáticos são uma ferramenta útil para avaliar cenários alternativos que não podemos observar diretamente na vida real”, disse Gregory Barnsley, um dos principais autores do estudo e pesquisador do Imperial College London.
A professora Alison Galvani, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, não fez parte do estudo, mas comentou: “Salvar mais de 19 milhões de vidas pela rapidez sem precedentes do desenvolvimento e implantação das vacinas contra a Covid-19 é um feito extraordinário para a saúde global. No entanto, milhões de vidas adicionais poderiam ser salvas por uma distribuição mais equitativa de vacinas”.
“A alta cobertura vacinal em um único país não apenas beneficia esse país, mas contribui para a redução mundial da transmissão e do surgimento de novas variantes. Uma resposta coletiva duradoura é tanto pragmática quanto eticamente imperativa”, completou Galvani.