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Covid-19 aumenta riscos na gravidez entre gestantes não vacinadas

Pesquisa escocesa indica que grávidas infectadas, sem imunização, eram mais propensas a ter um bebê natimorto ou que morresse no primeiro mês de vida

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 jan 2022, 16h56

Dois estudos divulgados recentemente trouxeram notícias preocupantes sobre os riscos da Covid-19 para grávidas não vacinadas e seus bebês. O primeiro e mais alarmante vem da Escócia, que analisando quase 88.000 gestantes desde o início da vacinação no país, descobriu que mulheres não vacinadas e infectadas pelo coronavírus eram muito mais propensas a ter um bebê natimorto ou que morresse no primeiro mês de vida. Ou seja, durante o período de pesquisa, todas as mortes perinatais ocorreram na gravidez de alguém que foi contaminada, mas não estava imunizada.

Além dos bebês, as próprias mães estavam mais ameaçadas: quase todas as grávidas com infecção por SARS-CoV-2 que não receberam o imunizante precisaram de cuidados intensivos, além de apresentarem uma taxa muito maior de hospitalizações do que as gestantes vacinadas.

O estudo apontou ainda que, em outubro de 2021, meses após as vacinas se tornarem amplamente disponíveis, menos de um terço das grávidas escocesas que tiveram bebês completaram o esquema vacinal e mais de 77% eram hesitantes aos imunizantes, algo que se reflete em muitos lugares ao redor do mundo. “Isso deve nos abalar e realmente ser um chamado à ação”, disse Yalda Afshar, obstetra de alto risco do Ronald Reagan UCLA, Medical Center, em Los Angeles, nos Estados Unidos, que não esteve envolvida no estudo. “A vacinação é o item claro de ação para melhorar a saúde das gestantes e seus bebês”.

Usando dados de um estudo populacional em andamento chamado Covid-19 In Pregnancy in Scotland (COPS), pesquisadores da Universidade de Edimburgo rastrearam gestantes na Escócia entre dezembro de 2020, quando as vacinas ficaram disponíveis pela primeira vez, e outubro de 2021 e relataram em publicação na Nature Medicine que, embora o risco de problemas fosse elevado para mulheres grávidas não vacinadas que contraíram a doença em qualquer momento da gestação, seria ainda pior se acontecesse no final da gravidez.

Das 620 mães que contraíram o coronavírus nos 28 dias anteriores ao parto, foram registrados 14 óbitos fetais ou infantis, 10 deles natimortos. Todas as mortes ocorreram em gestações de mulheres não vacinadas. Isso equivale a 22,5 mortes por 1.000 nascimentos, em comparação com 5,6 mortes perinatais por 1.000 nascimentos entre todas as gestações no país, no mesmo período. A infecção pelo SARS-CoV-2 de uma mãe não imunizada também aumentou o risco de partos prematuros. Escocesas infectadas em qualquer momento da gravidez eram mais propensas do que a população de gestantes em geral, a ter bebês prematuros: 10,2% contra 8%. Aquelas que deram luz a seus bebês após 28 dias da infecção viram esse número saltar para 16,6%.

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O estudo também jogou luz à saúde das mulheres não vacinadas: das 98% das internações em UTI que ocorreram durante a pesquisa, 91% foram de mulheres não vacinadas. “Meus colegas não deveriam fazer rondas em unidades de cuidados intensivos”, diz Sarah Stock, autora do artigo e especialista em medicina materna e fetal da Universidade de Edimburgo. “Uma gestante gravemente doente com Covid-19 deveria ser uma exceção e não uma ocorrência diária”, afirmou.

Em todo o mundo, muitas mulheres grávidas relutam em tomar as vacinas contra a Covid-19, citando a decisão das farmacêuticas em excluir gestantes dos testes iniciais e outras influenciadas pela desinformação de que as próprias vacinas possam causar mortes perinatais. Para verificar essas preocupações de segurança, os cientistas também examinaram os resultados de nascimento em quase 26.000 mulheres que foram vacinadas durante a gravidez e não encontraram nenhuma indicação de que a imunização durante a gestação, inclusive receber a injeção 28 dias após o parto, aumentasse os nascimentos prematuros ou mortes de bebês, nas semanas antes e após o nascimento. As taxas desses eventos coincidiram com as da população de grávidas, em geral.

“Essa descoberta é realmente importante”, diz Sarah Mulkey, neurologista fetal e neonatal que estuda infecções virais congênitas no Hospital Nacional Infantil em Washington, nos Estados Unidos. “Outros estudos recentes também mostraram que não há risco aumentado de parto prematuro ou natimorto e nem resultados anormais de gravidez por causa da vacinação”.

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Outro estudo dos Estados Unidos, publicado na Lancet Digital Health, destacou que o risco de infecção por Covid-19, mesmo que leve, influi na gravidez de não vacinadas. Pesquisadores do Institute for Systems Biology, em Seattle, examinaram registros eletrônicos de saúde de mais de 18.000 mulheres grávidas em hospitais e clínicas em cinco estados do país, que testaram positivo para a Covid-19, entre março de 2020 e fevereiro de 2021. Eles combinaram 882 gestantes não vacinadas, que tiveram infecção confirmada e sintomas leves a moderados, com outras grávidas que testaram negativo. Após controlar os fatores que podem infectar os resultados do parto, como idade materna, raça, etnia e tabagismo, a pesquisa descobriu que as mulheres infectadas sem o imunizante eram significativamente mais propensas a ter partos prematuros ou natimortos.

Os cientistas também alertaram para o tempo da infecção, um preditor muito forte de quanto tempo uma mulher levaria sua gravidez: quanto mais cedo uma mãe fosse infectada com SARS-CoV-2, mais cedo o bebê provavelmente nasceria. Surpreendentemente, a gravidade dos sintomas não piorou o resultado. “Mesmo infecções leves por Covid-19 colocam as grávidas em maior risco de parto prematuro”, diz Samantha Piekos, bióloga de sistemas do ISB e autora do artigo.

Por causa do risco aumentado para mulheres que estavam levemente doentes no início da gravidez, Mulkey diz que é muito importante que obstetras, médicos de medicina materna e fetal e pediatras perguntem à mãe se ela teve infecção precoce na gravidez. “Quando ela o faz, isso requer monitoramento adicional da gravidez e do bebê”, finaliza a médica.

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