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Covid-19: 14% dos pacientes graves têm fraqueza imunológica oculta

Dois novos estudos descobriram que formas graves da doença estão associados a problemas na produção ou uso do mensageiro molecular interferon tipo I

Por Da Redação 27 set 2020, 17h21

Cerca de 14% dos casos graves de Covid-19 são causados por falhas no sistema imunológico, em especial em um mecanismo: o mensageiro molecular interferon tipo I, de acordo com informações da Science. Dois estudos científicos publicados recentemente na revista confirmaram que, nestes pacientes, a resposta do interferon foi prejudicada por falhas genéticas ou por anticorpos nocivos que atacam o próprio interferon.

O interferon tipo I é uma substância produzida por todas as células do corpo que tem como objetivo desencadear uma resposta local imediata e intensa quando um vírus invade uma célula. Dessa forma, ele alerta as outras células e o sistema imunológico sobre a infecção, fazendo com que as células infectadas produzam proteínas para atacar o vírus, células de defesa sejam enviadas até o local e células vizinhas não infectadas preparem suas próprias defesas.

No entanto, o que os estudos revelaram é que, em alguns pacientes, os próprios anticorpos presentes no organismo atacam e neutralizam o interferon tipo I e, em outros, falhas genéticas levam a uma resposta inadequada nesse mecanismo.

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No primeiro estudo, pesquisadores da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, analisaram amostras de sangue de 987 pacientes graves do mundo todo. Em 10,2%, os cientistas identificaram anticorpos que atacaram e neutralizaram o interferon tipo I do próprio paciente. Um subgrupo desses pacientes tinha níveis sanguíneos extremamente baixos ou indetectáveis ​​desse interferon. Os resultados mostraram que alguns anticorpos nocivos neutralizaram a ação do interferon e as células expostas ao plasma dos pacientes não conseguiram evitar a invasão do novo coronavírus.

Por outro lado, nenhuma das 663 pessoas no grupo de controle com infecção leve ou assintomática tinha esses anticorpos prejudiciais. Esses anticorpos também eram escassos na população em geral, aparecendo em apenas 0,33% das mais de 1200 pessoas saudáveis ​​testadas. “O que isso significa é que pelo menos 10% dos casos de Covid-19 crítico é um ataque auto-imune contra o próprio sistema imunológico”, disse o geneticista de doenças infecciosas Jean-Laurent Casanova, líder do estudo.

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Surpreendentemente, os homens eram a maior parte dos pacientes com essa alteração. O que sugere que ela é causa por um traço recessivo ligado ao cromossomo X. Além disso, metade dos pacientes gravemente enfermos com esses anticorpos tinha mais de 65 anos, o que pode ajudar a explicar a maior vulnerabilidade dos idosos à Covid-19.

No segundo estudo, pesquisadores da mesma universidade sequenciaram o DNA de 659 pacientes com Covid-19 grave e de 534 controles com doença leve ou assintomática. Em seguida, eles examinaram 13 genes associados a problemas na produção ou uso do interferon tipo I. Os resultados mostraram que 3,5% dos pacientes gravemente doentes apresentavam mutações raras em oito desses genes. Entretanto, ninguém do grupo de controle carregava qualquer uma das mutações.

As descobertas têm implicações no tratamento dos pacientes e na definição dos grupos prioritários de acesso à vacina. De acordo com especialistas ouvidos pela revista Science, os interferons sintéticos, substâncias já utilizadas no tratamento de outras doenças, e terapias destinadas a remover os anticorpos prejudiciais podem ajudar esses pacientes. Identificar esses pacientes de alto risco é importante para que eles adotem estratégias de prevenção e possam ser incluídos como grupo prioritário da vacina.

As descobertas também levantam uma bandeira vermelha para o uso de plasma de pacientes recuperados. O plasma convalescente pode abrigar anticorpos neutralizantes de interferon e acabar piorando o estado de saúde do receptor, em vez de melhorar.

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