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Com COP 26, Pacto da ONU foca em problemas ambientais e de saúde mental

Segundo o diretor da organização, os problemas de sustentabilidade e saúde mental são gigantes no Brasil. “Parece que ninguém realmente tem noção”

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 nov 2021, 15h46 - Publicado em 1 nov 2021, 11h21

De 31 de outubro a 12 de novembro, será realizada a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow, no Reino Unido. Também chamada de COP26, terá a participação de 200 países que deverão apresentar seus planos de corte de emissões até 2030, concordando em promover mudanças para que o aquecimento global se mantenha abaixo de 2°C acima dos níveis industriais e tentar alcançar 1,5°C para evitar uma tragédia climática, como alertam os cientistas.

Na COP26 também se espera o anúncio de regras para a implantação do Acordo de Paris – que uniu todas as nações sobre os esforços globais para reduzir as mudanças climáticas e as emissões de gases do efeito estufa –  e medidas importantes como a mudança mais rápida para o uso dos carros elétricos, a aceleração para a eliminação da energia a carvão, diminuir drasticamente o corte de árvores e a proteção das pessoas dos impactos das mudanças climáticas.

Alguns compromissos firmados na Escócia podem afetar diretamente o dia-a-dia das pessoas como dirigir um carro a gasolina ou viajar menos de avião. Também envolve a pressão para que as empresas se tornem mais sustentáveis.

Lançado há 21 anos, o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) faz uma chamada para as empresas alinharem suas estratégias e operações em algumas áreas como o meio ambiente, direitos humanos, trabalho e anticorrupção. Acabou tornando-se a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 69 redes locais em 160 países. VEJA conversou com Carlo Pereira, diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, para entender a participação do país nessa agenda.

Como as empresas que assinaram o Pacto Global da ONU preparam a retomada das atividades?

Em 2020, o pacto foi a rede local que mais cresceu no mundo. O empresariado brasileiro está de olho. Estão assinando porque pensam em uma retomada sustentável, não só no sentido do meio ambiente, mas dos direitos humanos. Uma retomada mais íntegra, mais verde, mais sustentável. Mesmo no Brasil já que 80% de tudo o que consumimos faz parte das cadeias globais e os grandes players se posicionaram para uma retomada sustentável.

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Os Estados Unidos eram uma dúvida para essa ideia sustentável. O que mudou?

Quando entrou o Joe Biden, essa dúvida deixou de existir. Eles já estão com todos pacotes de retomada pautados em uma retomada verde. Mesma coisa a Europa e a China, que estão com uma pressão muito grande para a retomada sustentável, ainda mais com a COP 26.  Certamente a questão do carbono os pressiona bastante e os mercados já perceberam. O mercado financeiro, por exemplo, veio com tudo para a agenda.

Quais as ações práticas do Pacto da ONU?

Elas são divididas em temas. A ação setorial brasileira é de agro. O que a gente vê são os EUA preparando imposto de fronteira, o que o Reino Unido já fez. A União Europeia acabou de aprovar, como bloco econômico, os produtos e serviços brasileiros porque naturalmente têm uma pegada de carbono menor, dado a nossa matriz energética mais limpa. É claro que há uma questão modal, um pouco mais desafiadora porque ainda transportamos muita coisa por caminhão, mesmo tendo uma boa porcentagem de biodiesel, o que é muito bom comparado a outros países em desenvolvimento. Mas mesmo o agro está muito pressionado porque os países já fizeram uma lei de ação pela questão do desmatamento. Não só pelo do agro em si, mas também pela imagem. Um exemplo que sempre dou: um produtor de maçã no Sul do país tem dificuldade de exportar o produto dele para o Reino Unido porque eles não querem saber de onde saiu a maçã, acham que tudo tem a ver com o problema da Amazônia. E nós brasileiros sabemos que não tem nada a ver, mas eles pensam assim. Por isso, a dificuldade.

E com relação à saúde, qual a grande preocupação?

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A maior preocupação da Organização Mundial da Saúde é o transtorno pós-traumático coletivo que a pandemia está deixando nas pessoas. Então, pensando em saúde mental, temos um trabalho bem grande sendo realizado por meio do Movimento Mente em Foco, já que o Brasil sempre foi considerado o país mais ansioso e estressado do mundo. As empresas perdem muito dinheiro porque não tratam bem essa questão. A OMS entende o nosso ambiente de trabalho como mentalmente insalubre, por isso fizemos esse movimento: para conseguir penalizar e fazer com que trabalhem a saúde mental de seus funcionários e tenham melhor produtividade. Essa discussão é muito importante e está ganhando força, em especial na pandemia porque vimos todas as empresas relatarem uma piora significativa de saúde mental em seus quadros de trabalhadores. Na saúde, é claro que tem a Covid-19, as sequelas, mas esse problema da saúde mental é gigante e parece que ninguém realmente tem noção.

O que fazer para tratar adequadamente a questão da saúde mental e como isso vai influir nessa retomada?

Sobre a retomada ao trabalho, o Santander, por exemplo, acabou de anunciar que vão voltar 70% presencialmente, mas empresas como o Google, e outras, não apenas de tecnologia, mas que podem manter o trabalho remoto, já cravaram que a nova realidade é que volta quem quer. Aqui na organização, somos 30 pessoas no Brasil e o que fizemos foi escutar as pessoas.  Colocamos todo mundo em contrato de teletrabalho e vai quem quiser, quem se sentir seguro. As grandes instituições também estão optando por essa flexibilidade porque não adianta colocar uma pessoa para trabalhar presencialmente sem que ela se sinta totalmente segura. Olha a gravidade disso: você está falando de insegurança, de sentir medo, então não acho que as empresas não deveriam obrigar, especialmente quando é um trabalho que dá para fazer em home office. Tem que ter atenção e escutar. E por outro lado, criar mecanismos para que essas pessoas não trabalhem vinte horas por dia, algo também fundamental.

Qual a finalidade do Observatório 2030?

O Observatório 2030 nasceu de um sonho de quem trabalha nessa área de sustentabilidade. Estamos vendo uma enxurrada de gente falando que vai ser carbono neutro, que vai fazer e acontecer, por isso criamos um observatório para qualificar esses compromissos públicos e acompanhar anualmente. Por exemplo, uma empresa falou que vai ser carbono neutro em 2050, então vamos acompanhar este e outros temas também como mulheres em cargos de liderança, questões raciais e de gênero e um salário digno. Sabemos que a maior parte das empresas são sérias, mas tem aquelas que não. Então, até para conseguirmos separar o joio do trigo, temos que observar e entender como as coisas estão indo.

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