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Carta ao Leitor: Uma questão matemática

Informações ancoradas na estatística, e não na tolice dos achismos, autorizam a reverberar uma evidência: a vacina é a porta de saída para a Covid-19

Por Da Redação Atualizado em 14 jan 2022, 09h25 - Publicado em 14 jan 2022, 06h00

O mundo virou o ano apreensivo com a eclosão de casos de Covid-19 provocada pela variante ômicron — sabidamente mais transmissível que as anteriores, embora menos letal. Nos Estados Unidos, os testes positivos chegam a 1 milhão por dia. Autoridades sanitárias da Europa estimam que, em dois meses, metade da população do continente terá sido contaminada. No Brasil, na segunda-feira 10, o registro de mais de 36 000 novos infectados cravou um aumento de quase 800% em relação às duas semanas anteriores. As cifras assustam, sim — mas há um aspecto tranquilizador, atrelado à matemática da ciência. A explosão de casos, empiricamente perceptível por qualquer família, não acompanha aumento no número de hospitalizações e muito menos de mortes, como mostra a reportagem a partir da página 56. Dados americanos informam que, entre os mortos hoje nos Estados Unidos, mais de 90% são de não vacinados. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês), o cidadão sem imunizante tem dezessete vezes mais chances de parar em um hospital e vinte vezes mais chances de morrer.

São informações ancoradas na estatística, e não na tolice dos achismos, que autorizam a reverberar uma evidência: a vacina é a porta de saída para a Covid-19, atalho para a retomada da vida e da economia como a conhecíamos antes do vírus. Não faz sentido algum politizá-la, como acontece no Brasil. É compreensível — embora muitas vezes desnecessário — que temas como a política econômica, as relações internacionais e mesmo a educação ingressem nas rinhas ideológicas. A vacinação, contudo, deveria estar imune a esse tipo de postura. Fez bem o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o almirante Antonio Barra Torres, ao passar um carão público em Jair Bolsonaro, que dissera suspeitar de interesses escusos na aprovação de doses para crianças. “Se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate”, escreveu em nota.

Bolsonaro, evidentemente, não tem informações ou indícios de qualquer malversação da Anvisa — quer apenas pregar para os convertidos. Por isso soa inaceitável, do ponto de vista dos direitos da sociedade e das certezas científicas, prosseguir na lida contra a vacinação em permanente incentivo às notícias falsas que pululam nas redes sociais. Sabe-se, desde sempre, que as campanhas de imunização salvam ao menos 5 milhões de vidas todos os anos — conquista civilizatória inaugurada pelo naturalista britânico Edward Jenner há 225 anos, ao desenvolver uma proteção contra a varíola. No Brasil, ainda no tempo do Império, em 1837, foi estabelecida a imunização compulsória infantil contra a varíola, que em 1971 seria oficialmente erradicada (o mesmo ocorreu com a poliomielite em 1994). O atual espanto com a ômicron, embora não possa ser sinônimo de pânico, deveria ser transformado em empenho ainda maior pelas agulhadas. Felizmente, ao avesso dos tortos humores de Bolsonaro, os brasileiros estão se vacinando, com quase 70% da população já duplamente protegida contra a Covid-19 mais severa. E mais: pesquisas de opinião pública mostram que, no estado de São Paulo, por exemplo, 84% dos lares pretendem vacinar seus filhos. O resto é ignorância — ou a transformação da ciência em política.

Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2022, edição nº 2772

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