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Carta ao Leitor: Mentes atormentadas

A pandemia, que nos pegou de surpresa, lá na frente poderá ser tratada como algo do passado — mas os seus ecos permanecerão ainda durante uns anos

Por Da Redação Atualizado em 12 ago 2022, 12h13 - Publicado em 12 ago 2022, 06h00

Na aventura da humanidade, há momentos que marcam gerações dada a força das tragédias. Foi assim, por exemplo, nas duas grandes guerras mundiais do século XX. Foi assim na crise econômica de 1929 — cuja dor está triste e lindamente traduzida na fotografia de uma mãe imigrante, desempregada e viúva, cujo olhar abarca a um só tempo a desesperança e o pânico de toda uma geração. Os períodos inflacionários, pelos quais o Brasil passou de modo atávico, até que o Plano Real mudasse o torto destino do país, também aceleram a depressão da sociedade. E as pandemias — como a da gripe espanhola, entre 1918 e 1920, e a atual, atrelada à Covid-19 —, nem é preciso sublinhar, representam igualmente travessias complicadas. Um bom exercício, passada a tempestade, é medir as sequelas — e, com o otimismo possível, construir saídas.

Nunca esqueceremos dos 6,5 milhões de mortes desde março de 2020 — 10% das quais no Brasil, em estatística vergonhosa —, mas é o caso de já respirar com alívio. Agora, depois de dois anos de quarentenas e afastamento do convívio social, de freada econômica e desemprego, parece haver um ensaio para a retomada da vida em seu ritmo normal. Em parte, é claro. Setores econômicos inteiros precisam ainda se reinventar. O trabalho sofreu talvez a sua mais ruidosa revolução desde a invenção do computador pessoal — e vivemos o tempo do home office. São reviravoltas que mexem com corações e mentes, registradas em cuidadosas pesquisas, como destaca uma reportagem desta edição de VEJA. A crise, é natural, mexeu também no bolso, tirando o sono de muita gente. Levantamento com 2 000 pessoas mostra que 71% dos entrevistados estão preocupados com sua saúde financeira e afirmam ser necessário reduzir gastos. Evidentemente, sempre existiu um incômodo com a falta de força de uma conta bancária, mas a pandemia ampliou essa sensação. E não há dúvida, como registra um estudo americano: 90% das pessoas são categóricas ao afirmar que o dinheiro tem um profundo impacto no atual patamar de estresse.

A explosão de problemas psicológicos indica um imenso problema, é verdade, mas aponta também para uma necessidade: é preciso aprender a sair do fundo do poço, tanto do ponto de vista individual como do coletivo. O país precisa crescer, empregos terão de ser gerados e as escolhas, bem feitas. Não será fácil, vale ressaltar, levando-se em consideração o momento atual da economia global e todas as transformações já mencionadas. Além disso, as abissais e inaceitáveis diferenças de renda de países como o Brasil tendem a impor ritmos distintos de recuperação. Algumas classes sociais sentirão os efeitos negativos por mais tempo. A realidade é que a pandemia, que nos pegou de surpresa e virou tudo de cabeça para baixo, lá na frente poderá ser tratada como algo do passado — contudo, os ecos dessa difícil passagem permanecerão ainda durante uns anos. E não apenas nas nossas mentes.

Publicado em VEJA de 17 de agosto de 2022, edição nº 2802

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