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Aplicativos de paquera: três em cada dez adeptos estão acima dos 50 anos

Além disso, 97% deles acreditam que entrar um relacionamento neste período da vida é incrível. Mas é preciso ter cuidados com esse tipo de exposição

Por Letícia Passos
Atualizado em 12 jun 2019, 17h40 - Publicado em 12 jun 2019, 14h26

Nos últimos anos, os aplicativos de paquera têm ganhado cada vez mais adeptos, especialmente pela comodidade que oferecem. Apesar de ter se popularizado entre jovens, essa tecnologia está conquistando grupos mais velhos, especialmente indivíduos acima dos 50 anos.  Uma pesquisa indica que, atualmente, eles representam 35% do total de usuários. O levantamento, realizado pela Match Group LatAm, ainda descobriu que 50% dos entrevistados entre 50 e 59 anos acreditam que nesta idade é mais fácil encontrar um novo amor, já que as pessoas tendem a ser maduras e ter expectativas mais realistas na busca por um parceiro.

Além disso, 97% deles acreditam que entrar em um relacionamento neste período da vida é incrível. É o caso da Daniela Fabbrocini, de 52 anos. Divorciada há quinze anos, desde o ano passado ela namora uma pessoa que conheceu pelo aplicativo Happn. Como muitos na sua idade, ela tinha receio de utilizar o recurso por não querer se expor ou ser alvo de julgamentos, mas uma mudança na carreira trouxe a reflexão sobre a necessidade de ser mais flexível, inclusive no amor. Segundo Daniela, sem o aplicativo, ela dificilmente teria a oportunidade de conhecer alguém tão diferente.

A nova experiência fez com que ela percebesse as vantagens de utilizar aplicativos de relacionamento. Agora, Daniela recomenda, mas faz algumas ressalvas. “Eu aconselho usar o aplicativo. Mas antes precisam ter autossuficiência emocional. A carência atrapalha muito. Se você está carente, é melhor procurar a terapia e trabalhar essa questão antes de se aventurar”, diz.

A psicóloga Vânia Calazans concorda. “Esse é um bom conselho. Resolver as próprias questões é fundamental, mas leva tempo e por isso poucos pensam nesta possibilidade. As pessoas não querem esperar. Mas conhecer a si mesmo garante que você vai estar preparado para reconhecer tanto os sinais positivos quanto os negativos de alguém que se conhece por aplicativo ou mesmo na vida”, explica. 

Comodidade x segurança

Aplicativos de relacionamento trazem comodidade, especialmente para quem não quer se expor em situações públicas. Também facilita o encontro de pessoas com interesses em comum. Ainda assim, é preciso ser usado com cautela e inteligência. Daniela conta que no começo se deslumbrava com a foto, a beleza física, mas que, com o tempo, aprendeu a priorizar o que está escrito no perfil. Foi assim que ela notou o atual namorado. “Gostei do que ele escreveu. Era exatamente como eu me sentia”, comentou. Por isso, especialistas em aplicativos recomendam que os usuários sejam honestos no perfil.

Ao encontrar alguém bacana, é preciso ser cauteloso. “Converse bastante. Primeiro pelo aplicativo e, se foi possível construir maior confiança, passe para o WhatsApp. Por lá, preste atenção nas fotos do perfil e, se possível, sugira uma conversa por vídeo. A qualquer sinal de que algo está errado, use o ‘bloquear’. Se houver firmeza, marque um encontro, sempre em local público”, recomenda.

A prudência deve permanecer no primeiro encontro. Vânia, por exemplo, aconselha manter as expectativas bem baixas. “Durante o primeiro contato a pessoa não é autêntica. Ela quer agradar e só mostra as qualidades. É preciso ficar atento e prestar atenção em incoerências, na postura, no teor das perguntas”, diz a psicóloga do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

Com todos os cuidados tomados, resta apenas aproveitar a experiência — cada vez mais procurada pelos maiores de 50 anos. Aliás, eles estão muito interessados em desfrutar todas as possibilidades desta nova fase da vida.

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A vida depois dos 50

Uma maioria

Não é apenas na vida amorosa que o grupo é expressivo. De acordo com o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem hoje mais pessoas acima dos 50 anos do que crianças e adolescentes (0 a 14 anos), o que representa mais de 25% dos brasileiros. A tendência deve continuar, já que a expectativa de vida está aumentando: o número de pessoas entre 50 e 59 anos, por exemplo, cresce a um ritmo de 3%, enquanto o restante da população cresce a 1,5%. Esses números colocam o Brasil como o país com envelhecimento populacional mais acelerado do mundo.

O cenário reflete-se em outras áreas: no mercado consumidor brasileiro, eles representam 42% do consumo total das famílias, movimentando 1,8 trilhões de reais por ano, segundo o Instituto Locomotiva. Já a pesquisa Black Friday do Google descobriu que os maiores de 55 anos estiveram no topo do consumo de celulares, comprando 1,4 vezes mais do que indivíduos na faixa entre 18 e 54 anos.

Saúde

Manter uma alimentação equilibrada e praticar atividade física é uma recomendação que serve para qualquer idade. No caso dos maiores de 50, essas recomendações são ainda mais importantes para evitar problemas de saúde associados à idade. Para aqueles que cuidam da saúde desde cedo, é necessário continuar, mesmo que o ritmo seja mais lento devido à limitação da idade. Para aqueles que não foram tão cuidadosos, nunca é tarde para começar a cuidar melhor de si.

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A necessidade de se cuidar não é à toa. Estudo do ano passado indica que nesta idade a perda da massa muscular associada ao ganho de gordura passa a ser mais acelerada, o que pode levar ao excesso de peso e obesidade. Para evitar o risco, é preciso ficar atento à alimentação e evitar o sedentarismo. Mesmo atividades simples, como dança, ioga, pilates ou caminhada, são suficientes para manter-se ativo e garantir boa saúde. Vale lembrar que o exercício físico não apenas ajuda a manter o peso adequado, como pode atuar na prevenção de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer. Além disso, exercitar-se pode trazer benefícios emocionais, melhorando autoestima e humor.

Quanto à alimentação, especialistas orientam que, a partir dos 50 anos, as pessoas devem evitar alimentos industrializados e investir em refeições balanceadas, com muitas frutas, verduras e legumes. Recomenda-se acrescentar nozes, grãos, sementes (abóbora e gergelim) e cereais (aveia e quinoa). E não se esqueça de se hidratar.

Preconceito

No mercado de trabalho, nove em cada dez empresas no Brasil acreditam que os profissionais acima de 50 demonstram maior equilíbrio emocional e fidelidade à empresa, além de ter compromisso com o trabalho e comportamento ético, segundo pesquisa realizada pela FGV em parceria com a Aging Free Fair. Apesar disso, apenas 11% das empresas brasileiras mantêm programas de contratação para pessoas nesta faixa etária. A explicação para esse número tão baixo são os ‘contras’ de ter um funcionário maduro, como falta de flexibilidade, dificuldade em lidar com novas tecnologias, exigência de maiores salários e custos com saúde, por exemplo.

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Esses resultados confirmam a descriminação sofrida por essa parcela da população: 74% das pessoas acima dos 50 anos dizem já ter testemunhado algum tipo de preconceito pela idade. No entanto, pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 81% delas não se enxergam como “velhas”, embora admitam não serem mais jovens. O problema é que não estar nem de um lado nem do outro faz com que muitos se sintam invisíveis, no limiar entre o jovem e o idoso.

“Por muito tempo, uma pessoa aos 50 estava se preparando para descansar, desfrutar a aposentadoria. Mas o aumento da expectativa de vida mudou essa realidade. Agora, aos 50 vivemos uma fase de transição entre juventude e velhice. Apesar disso, a sociedade ainda não aprendeu a lidar com essa mudança”, explica Vânia. 

Perto dos 50

Para Vânia, os 50 anos é um marco do envelhecimento e por isso muitos temem sua chegada. No entanto, seu conselho para quem está se aproximando dessa idade é se desconectar das regras sociais e culturais, ou seja, da ideia que se faz do que é viver essa fase, e olhar apenas para si mesmo. “Faça uma autorreflexão. Entenda quem você vai ser. Avalie-se. Você vai perceber que ainda tem muita energia para produzir, aprender, mudar, viver”, diz.

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Essa autorreflexão aconteceu para Camila Faus, de 46 anos. Recentemente, ela foi forçada a questionar o que é ser uma mulher próxima dos 50. Tudo começou no ano passado, quando ela percebeu que sua menstruação estava atrasada. Pela idade, imaginou que a temida menopausa tivesse chegado. No entanto, a realidade foi outra: uma gravidez. Apesar de não ter seguido adiante com a gestação, a experiência permitiu que ela repensasse seus conceitos sobre o envelhecimento da mulher. “Eu percebi que estava me olhando através de muitos estereótipos sociais. Mas, a partir desse evento, passei a encarar os padrões de forma diferente”, conta.

O primeiro passo para mudar foi entender quem são e como vivem as mulheres nesta fase da vida. A busca pela respostas inspirou a criação do SHEt (@SHEt_alks). O projeto, direcionado ao público feminino entre 45 e 60 anos, tem como principal proposta desconstruir estereótipos e mostrar que quando o assunto é envelhecer não há certo ou errado. Através do Instagram, Camila e a sócia Fernanda Guerreiro abordam diversos assuntos, incluindo menopausa, sexo e saúde.

A nova forma de enxergar a proximidade dos 50 surpreende. “Se me perguntassem há seis, sete anos, eu diria: estou com medo. Mas hoje digo: não muda nada, meu plano é continuar fazendo as mesmas coisas. De onde estou agora, me parece que fazer 40 foi muito mais apavorante”, comenta.

Preparativos

As pessoas costumam se preocupar com a velhice quando ela está à porta. Talvez porque o medo de envelhecer nos force a não pensar sobre essa fase da vida. Mas um planejamento sadio começa muito antes dos 50. Especialistas lembram que o organismo entra em processo de envelhecimento a partir dos 28 anos e é aí que a preparação para o futuro deve começar, especialmente nos cuidados com a saúde.

O jovem costuma enxergar-se aos 50 como um indivíduo velho e cansado. Um erro. Nessa fase, em que geralmente não há necessidade de cuidar de ninguém, as pessoas enxergam a liberdade, talvez até maior do que se tinha aos 20. Por isso, o envelhecimento deve ser planejado, para que seja vivido ao máximo. Viagens, romance, diversão. Cuidar de si mesmo, depois de anos cuidando de outros.

A velhice não deveria ser enxergada como algo a temer. Este é um momento único da vida. Portanto, não tenha medo. Prepare-se. E aproveite quando os 50 chegarem.

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