Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Antes que o mal apareça: a nova estratégia na batalha contra o Alzheimer

Cientistas investem na prevenção, combatendo problemas de audição e visão e melhorando as interações sociais

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 jul 2022, 08h00

Em 1906, o neuropatologista Alois Alzheimer apresentou, em um congresso de psiquiatria na Alemanha, o caso de uma mulher que morreu aos 55 anos depois de um progressivo quadro de esquecimento e desorientação. O cientista afirmou que havia identificado uma falha incomum no córtex cerebral, região decisiva para o raciocínio, a linguagem e a memória. Mais de um século depois, a doença de Alzheimer permanece envolta em mistérios, e os incontáveis esforços dos pesquisadores fracassaram, pelo menos até agora, na tentativa de criar um medicamento capaz de tratá-la adequadamente. Se o Alzheimer permanece como um enigma intransponível — e que tende a se tornar mais presente com o aumento da expectativa de vida da população —, a medicina se debruça agora sobre uma estratégia diferente. A ideia é pôr em prática um ambicioso plano de prevenção que combata os chamados riscos modificáveis, aqueles que podem ser alterados no decorrer da existência.

Não é de hoje que a ciência sabe que hábitos de vida e circunstâncias ambientais são fatores de risco para o Alzheimer. Em 2017, a Comissão Lancet, ligada ao periódico científico The Lancet, apresentou a primeira leva de riscos modificáveis, que incluíam baixa escolaridade, hipertensão, obesidade, depressão e diabetes. Em 2020, acrescentou à lista o consumo excessivo de álcool, lesão cerebral traumática e poluição do ar. Agora, sabe-se que problemas auditivos e visuais e até frágeis interações sociais podem acelerar o aparecimento da doença. “Conhecer os fatores de risco ​é passo fundamental para enfrentá-los”, disse a VEJA Gill Livingston, líder da Comissão Lancet e professor da University College London. “Isso nos dá mais controle sobre nosso futuro.”

A atenção com alterações auditivas e visuais significa a possibilidade de oferecer aos pacientes a manutenção das habilidades cognitivas e, portanto, assegurar maiores e melhores interações pessoais. “Esses problemas levam a um isolamento do mundo externo, o que faz com que o cérebro passe a ter menos estímulos”, diz Arthur Jatobá, neurologista do Hospital Brasília e membro da Academia Brasileira de Neurologia. Outra frente que tem se desenvolvido exponencialmente é o diagnóstico cada vez mais cedo (leia no quadro). “O Alzhei­mer não tem cura, mas a detecção precoce permite que a doença progrida de forma mais lenta”, diz a patologista Livia Avallone, coordenadora de novos produtos da rede Dasa.

arte Alzheimer

Continua após a publicidade

Desde a sua descoberta, o Alzheimer confunde médicos e pessoas próximas dos pacientes por seus sintomas que parecem ser normais da velhice ou relacionados a outros males, como depressão. A aflição dos profissionais e familiares se dá pelo poder incapacitante da doença, que elimina lembranças, habilidades e a autonomia dos idosos. A derrota mais recente veio do remédio experimental crenezumab, que, supunha-se, poderia retardar o avanço ou prevenir a enfermidade. Há alguns dias, a Genentech, empresa do Grupo Roche, divulgou que o estudo iniciado em 2013 com 252 voluntários portadores de uma mutação genética responsável por episódios precoces da doença trouxe resultados decepcionantes.

Por mais que a longevidade seja um fator a ser celebrado por sua relação com progressos na área da saúde, ela leva inevitavelmente ao aumento de enfermidades que afetam a população com mais de 65 anos. Em janeiro deste ano, um levantamento do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME, na sigla em inglês) estimou que, em 2050, 153 milhões de pessoas viverão com algum tipo de demência, incluindo o Alzheimer. Em 2019, eram 57 milhões. No Brasil, esse número é de 1,5 milhão de pacientes, de acordo com o Ministério da Saúde, mas há subnotificação. A doença de Alzheimer é fonte de imenso sofrimento para pacientes e familiares, que veem o lento apagar de seus entes queridos. Enquanto o esperado tratamento não vier, a prevenção é o melhor caminho.

Publicado em VEJA de 27 de julho de 2022, edição nº 2799

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.