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Acne: por que a doença está crescendo entre as mulheres adultas

Entre as causas, exposição à poluição, stress e alimentação rica em açúcar e gordura

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 dez 2019, 16h01 - Publicado em 12 dez 2019, 15h58

Aos 20 e tantos anos de idade, a última coisa que uma mulher espera é acordar uma manhã com um rosto cheio de espinhas. No entanto, essa é a realidade para um grande percentual de mulheres que sofrem com acne adulta. O problema afeta até mesmo aquelas que não enfrentaram a condição na adolescência, período comumente associado ao aparecimento de cravos e espinhas devido às alterações hormonais da puberdade.

A doença (sim, tecnicamente é uma doença) afeta 16 milhões de brasileiras. Segundo o Journal of American Academy of Dermatology, 54% das mulheres com mais de 25 anos têm acne facial.  Um estudo realizado em 2015 no Reino Unido mostrou um aumento de 200% no número de adultos que procuram tratamento para acne ao longo de um ano, com mulheres cinco vezes mais propensas a serem afetadas devido a alterações hormonais, gravidez e uso de contraceptivos.

“As mulheres são mais sensíveis aos andróginos, os hormônios que ativam e são produzidos pelas próprias glândulas na acne da mulher adulta”, diz o dermatologista Marco Rocha, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

As principais causas avaliadas são: aumento da poluição, stress, além do peso dos hormônios e da genética. Dolorida e incômoda, a doença tem um efeito extremamente negativo na auto-estima e no bem-estar. Um estudo publicado em 2018 no British Journal of Dermatology revelou que pacientes com acne correm um risco 63% maior de desenvolver depressão em comparação com quem não têm o problema.

Acne da mulher adulta (AMA)

A condição é tão séria que conserva características e tem até uma denominação específica: acne da mulher adulta ou AMA. A condição diferencia-se da acne vulgar por estar relacionada a alterações genéticas, além de histórico familiar, alterações hormonais, tipo de pele, stress, hábitos de vida, entre outros. A AMA ainda se caracteriza por ter evolução crônica, o que exigirá um tratamento de longo prazo.

Um estudo conduzido recentemente por Marco Rocha, com mulheres entre 26 anos e 44 anos mostrou que a acne neste perfil de pacientes está associada à uma alteração genética, que mantém a reação inflamatória da pele. “As glândulas sebáceas presentes na pele possuem receptores (Toll-like 2) que podem se ligar a determinados microorganismos. Em mulheres adultas com acne, há maior expressividade desses receptores que, ao se ligarem à bactéria Cutibacterium acnes, comum na pele de toda a população, resultam em um tipo de acne com características mais inflamatórias, com pápulas avermelhadas e dolorosas”, diz o dermatologista.

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Outro ponto que diferencia esta forma de acne é que as lesões são inflamatórias, geralmente caracterizadas por vermelhidão e dor, com poucos cravos e distribuídas na “zona U” – composta pela mandíbula, queixo e pescoço. Enquanto a acne da adolescência, também conhecida como acne vulgar, tem mais cravos e espinhas com pontas amarelas e se manifesta na “zona T” do rosto (testa, região superior das bochechas e nariz).

Além disso, diversos estudos já mostraram que o impacto negativo na qualidade de vida é maior nos adultas do que nos adolescentes.

Causas

A vida moderna explica parte deste aumento no número de casos da acne em mulheres adultas. Alguns hábitos de vida, como  o excesso de alimentos com muito açúcar ou gordura, obesidade, estresse, tabagismo e a exposição excessiva ao sol e a poluição estão entre as causas e os fatores agravantes para a acne na mulher adulta.

Além disso, o quadro pode estar relacionado com alterações hormonais ou doenças endócrinas, como a síndrome do ovário policístico. Também é comum aparecer em mulheres que param de tomar pílula nessa fase ou mudam o tipo de contraceptivo.

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Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito em consultório, com um exame clínico. O médico também pode solicitar exames laboratoriais, para confirmar ou descartar causas hormonais ou endócrinas. A boa notícia é que é possível tratar a doença. As possibilidades incluem produtos tópicos, como ácido azelaico, adapaleno, tretinoína e peróxido de benzoíla, e medicamentos, como pílula anticoncepcional, antibiótico oral, isotretinoína e até mesmo a espironolactona, comumente utilizada como tratamento para hipertensão.

Embora haja controvérsias em relação ao uso da espironolactona no tratamento da acne adulta, uma pesquisa recente da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, mostra que a droga diurética funciona tão bem quanto antibióticos no tratamento da acne hormonal.

Peeling e outras terapias realizadas em consultório podem complementar o tratamento com objetivo de melhorar o aspecto da pele oleosa e suavizar cicatrizes.  “A utilização do LED de luz azul, por exemplo, é uma opção. A tecnologia possui uma ação bacteriostática muito importante no tratamento da acne. É possível ainda complementar o uso da luz azul com a luz infravermelha, que possui propriedades cicatrizantes, calmantes e anti-inflamatórias.”, explica a dermatologista Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia.

Recentemente, uma farmacêutica americana submeteu para aprovação da FDA, agência americana que regula medicamentos e alimentos, um creme de clascoterona a 1% que é capaz de controlar a produção de oleosidade e a inflamação sistêmica, fatores diretamente associados ao surgimento ou piora da acne. Segundo a dermatologista , a substância “é um ativo tópico projetado para penetrar na pele acneica e bloquear os receptores de hormônios andrógenos da glândula sebácea, agindo diretamente sobre uma das principais causas da acne, sem causar efeitos colaterais”. Se aprovado, será o primeiro novo mecanismo de ação para tratamento da acne em quase 40 anos.

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É importante entender que estamos falando de um problema crônico. Portanto, o cuidado é contínuo e exige manutenção constante. Vale ressaltar que a pele da mulher adulta é mais sensível do que a das adolescentes e, como já dito, a acne adulta é uma doença multifatorial, portanto, não há um tratamento universal, que tem o mesmo efeito em todas as pacientes. Portanto, copiar a receita de uma amiga não é uma boa ideia. O ideal é procurar um médico para descobrir as causas específicas do seu problema e qual tratamento funciona melhor para você.

Cuidados

A acne adulta não tem prevenção nem cura, mas alguns cuidados no dia a dia ajudam a manter o quadro sob controle. Ele incluem: lavar o rosto duas vezes ao dia com sabonetes e produtos apropriados, usar adstringente como limpeza complementar, protetor solar e hidratantes indicados para pele oleosa e produtos secativos para espinhas pontuais. Maquiagem e outros cosméticos devem ser oil free ou indicados para pele oleosa.

Ficar mexendo no rosto ou espremer as espinhas também deve ser evitado. Além de espalhar a sujeira, o hábito aumenta a oleosidade e pode piorar as lesões.

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