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A jovem esperança brasileira contra o câncer

Suzana Kahn e Renata Pereira receberão incentivo financeiro para pesquisar os mecanismos de funcionamento de dois tipos de câncer no exterior e começar o próprio laboratório no retorno ao Brasil

Por Juliana Santos
8 nov 2012, 07h30

Duas pesquisadoras brasileiras foram selecionadas pelo programa Pew Latin American Fellows Program in the Biomedical Sciences (Programa Pew de Parceiros Latino-americanos em Ciências Biomédicas) para receber uma bolsa de pós-doutorado nos Estados Unidos em suas áreas de interesse. Suzana Kahn e Renata Pereira realizam estudos sobre o câncer.

Suzana estuda o glioblastoma, um tipo de câncer que afeta o cérebro do paciente. Ele costuma ocorrer em pessoas entre 40 e 60 anos e suas causas ainda não são conhecidas. Já a pesquisa de Renata trata da relação entre as modificações no DNA causadas por proteínas e a leucemia, tipo de câncer que atinge o sangue.

O programa de bolsas para o qual elas foram selecionadas existe desde 1991 e é voltado para pesquisadores latino-americanos em nível de pós-doutorado. Além de um salário anual de 30.000 dólares (aproximadamente 5.000 reais por mês), durante dois anos, o bolsista recebe um adicional de 35.000 dólares quando retorna a sua país de origem após o término do programa, com objetivo de que ele possa montar seu próprio laboratório. O programa é promovido pela The Pew Charitable Trusts, instituição que incentiva a busca pelo conhecimento focado em grandes problemas mundiais. Ela foi criada pelos filhos de Joseph N. Pew (1886-1963), fundador da petroquímica Sun Oil Company, atual Sunoco.

Tumores cerebrais – Os glioblastomas, pesquisados por Suzana, são tumores de difícil tratamento. Mesmo quando a quimioterapia elimina até 99% das células cancerígenas, o 1% que resta é composto por células-tronco tumorais, também chamadas de reservatórios tumorais, que podem regenerar o câncer.

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CÉLULAS-TRONCO TUMORAIS

O termo célula-tronco se refere a uma célula indiferenciada, que pode se transformar em qualquer tipo de célula do organismo. Por essa razão, elas são utilizadas em pesquisas para tratamentos de diversas doenças. Existem também células-tronco dentro de cada órgão, que formam as células apenas daquele tecido específico. As do cérebro, por exemplo, são as células tronco neurais, que se diferenciam em células do tecido nervoso. As células-tronco tumorais são aquelas que podem se transformar em qualquer tipo de célula dentro do tumor. As células-tronco tumorais do gliobastoma podem se transformar até em vasos sanguíneos, para garantir a nutrição do tumor.

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Em seu doutorado, realizado em parte no Brasil e em parte na França, Suzana observou que a quimioterapia provoca um aumento na quantidade dessas células. Além disso, de acordo com ela, há evidências científicas de que a quimioterapia leva ao surgimento de focos secundários do glioblastoma no paciente, ou seja, ela pode gerar uma migração desses reservatórios tumorais.

Durante o pós-doutorado, que tem início em janeiro de 2013, no Institute for Stem Cell Biology & Regenerative Medicine (Instituto de Biologia de Células-tronco e Medicina Regenerativa) em Stanford, Suzana pretende estudar mais a fundo os efeitos negativos da quimioterapia sobre as células-tronco tumorais, especialmente nos processos de multiplicação e migração das células. Ela ressalta que no laboratório de seu orientador, Dr. Irving L. Weissman, poderá observar as vias intracelulares que são ativadas nesse processo. “Quero ver tudo o que está acontecendo dentro das células quando são tratadas com esses quimioterápicos”, diz a pesquisadora.

Interesse pessoal – Suzana é formada em Biomedicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante a graduação, ela fez estágio no Laboratório de Morfogênese Celular, voltado para o estudo do glioblastoma. Mas seu interesse pela pesquisa do câncer é anterior à graduação. “Quando eu tinha 15 anos, meu irmão mais novo, que tinha 14 na época, teve linfoma. Ele fez quimioterapia e foi curado, mas comecei a observar que alguns pacientes não respondiam bem à terapia. Eu me interessei por essa área desde então, sempre quis saber o que estava se passando nessas células, achar uma cura ou aumentar a sobrevida dos pacientes”, diz Suzana.

Proteínas e leucemia – A pesquisa de Renata trata da relação entre as modificações epigenéticas e a leucemia. Essas modificações não ocorrem na sequência dos genes, mas na ativação ou inativação de um gene, determinada por modificações químicas no próprio DNA ou em proteínas que se associam a ele, como as histonas. De acordo com a pesquisadora, um descontrole nessas modificações epigenéticas pode levar ao aparecimento de tumores. “A célula pode proliferar muito mais do que deveria ou não morrer e gerar um tumor”, diz Renata.

O foco de sua pesquisa são duas proteínas, TET2 e JARID2, que apresentam alterações em pacientes com leucemia e estão associadas a modificações no DNA e nas histonas. O objetivo agora é descobrir como as alterações nessas proteínas perturbam o funcionamento do sistema imunológico e podem levar ao aparecimento da leucemia.

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Área estratégica – No Brasil, Renata estudava infecções causadas por parasitas, já procurando entender as alterações no DNA que afetam a produção de proteínas. “Na minha pesquisa anterior a gente tinha ideia de que o parasita era capaz de induzir na célula hospedeira a produção de proteínas diferentes. Ele conseguia manipular a produção de proteínas pela célula para favorecer o processo infeccioso dele”, afirma Renata.

A pesquisadora explica que nos Estados Unidos poucas instituições de pesquisa trabalham com parasitas. O interesse principal do país é a pesquisa de câncer e doenças crônicas. “Por mais que tenha muita pesquisa no cenário internacional, existem variações em cada população que fazem com que o câncer seja diferente em todos os lugares, então essa é uma área estratégica para a pesquisa nacional também”, diz.

Renata está em San Diego, nos Estados Unidos, desde fevereiro de 2011, quando iniciou seu pós-doutorado. Ela desenvolve sua pesquisa no laboratório da Dra. Dr. Anjana Rao, no La Jolla Institute for Allergy and Immunology. Sua bolsa teve início em agosto desse ano e termina em agosto de 2014.

Incentivo à pesquisa – As duas pesquisadoras já fazem planos para continuarem seus trabalhos no retorno ao país, utilizando o auxílio financeiro fornecido pelo programa. “Quero criar um instituto de células-tronco tumorais para investigar os mecanismos de resistência dessas células à quimioterapia e os efeitos negativos que ela produz”, afirma Suzana.

Renata conta que pretende trazer o projeto de pesquisa da leucemia para o laboratório que criar no Brasil, mas não descarta a possibilidade de aplicar o conhecimento adquirido na área de biologia molecular para outras áreas, de importância mais específica do país, como o estudo de parasitas. “Ao começar um laboratório, a maior dificuldade é conseguir recursos para iniciar o trabalho, pois para conseguir verba é preciso ter produtividade. Então a ajuda inicial do programa é fundamental para conseguir financiamentos mais tarde”, diz a pesquisadora.

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