Acossados por uma sensação de desamparo que lhes parece inextinguível, os pacientes de distúrbio fronteiriço de personalidade ou borderline, para usar a terminologia inglesa, têm de lutar bravamente para adentrar os limites da nova normalidade.
O Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Distúrbios Mentais, o guia das doenças psiquiátricas da Associação Americana de Psiquiatria, caracteriza a doença com uma lista de novos sintomas: sensação constante de vazio; acessos injustificáveis de raiva; alternância constante e extrema de humor, relações interpessoais intensas e instáveis; comportamento impulsivo; ideias frequentes de suicídio ou automutilação intencional; episódios de paranoia; autoimagem instável; e esforços desmedidos para evitar o abandono verdadeiro ou imaginado.
Nada, porém, define mais integralmente os fronteiriços do que a metáfora utilizada pela psicóloga americana Marsha Linehan, professora da Universidade de Washington e referência mundial no estudo da doença: “Eles são o equivalente psicológico dos pacientes vítimas de queimaduras de terceiro grau. Não têm nenhuma ‘pele emocional’ para protegê-los. O mais leve toque ou movimento pode causar-lhes muita angústia.”
A relação que os fronteiriços estabelecem com seus médicos e psicoterapeutas é bastante peculiar. Eles agem o tempo todo como se estivessem testando a dedicação e a fidelidade de quem os trata. Os sinais de melhora às vezes são tão sutis que podem escapar ao profissional menos experiente. “Fico extremamente satisfeito quando um paciente me telefona para dizer que está triste, ao invés de chegar ao consultório com o braço marcado por cortes”, afirma o psiquiatra e psicoterapeuta Sassi.
“Ao me falar de sua tristeza, ele mostra que finalmente aprendeu a expressar seus sentimentos de maneira saudável”. E, quem sabe, possa enveredar pelo caminho da nova normalidade, em que não cabe a ilusão da ausência completa de tormentos.
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