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Vingadora da pátria

A revanche da mocinha Clara fez a novela das 9 ir do inferno ao paraíso no ibope. Uma pesquisa mostra que isso tem tudo a ver com a sede nacional de justiça

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jan 2018, 16h37 - Publicado em 25 jan 2018, 06h00

Até coisa de dois meses atrás, a novela O Outro Lado do Paraíso parecia uma bomba prestes a explodir no colo dos executivos da Globo. Com sua decupagem crua da violência (inclusive sexual) sofrida no casamento pela heroína Clara (Bianca Bin), excesso de personagens negativos e falta de humor, a primeira fase da trama de Walcyr Carrasco não empolgava ninguém. Pressentindo um incêndio, a direção de teledramaturgia da emissora convenceu Carrasco a acelerar a narrativa, para chegar logo ao clímax: a senda de vingança de Clara contra os figurões de uma fulgurante elite de Palmas, que tanto abusaram de sua ingenuidade. Em paralelo, uma pesquisa da Globo com donas de casa confirmou o acerto das mudanças: o público ansiava por ver Clara dando o troco a seus algozes. A mesma pesquisa sugeriu que isso tem tudo a ver com a sensação de impunidade no país: a população veria em Clara uma vingadora de que se orgulhar. “Que brasileiro hoje não anseia por corruptos na cadeia?”, diz o autor. “O cidadão sente sede de justiça.”

A virada de Clara resultou na mais espetacular subida de uma novela das 9 no ibope desde 1999: em apenas uma semana, O Outro Lado do Paraíso ganhou 8 pontos de audiência. Internada num manicômio por armação da vilã Sofia (Marieta Severo), a mocinha empreendeu uma fuga inacreditável dentro de um caixão de defunto lançado ao mar do alto de uma falésia. O povo das redes uivou de prazer. E aí se abriu caminho para uma série de picos de audiência. A novela atingiu notáveis 42 pontos em São Paulo no capítulo da reaparição triunfal de Clara na alta sociedade da capital do Tocantins. “Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta”, anunciou, com sorrisinho malicioso. Desde então, uma endiabrada Clara fechou a mina de esmeraldas controlada pela vilã, mandou para a cadeia o ex abusivo e tirou do armário o médico enrustido responsável por sua internação no hospício. Primeiro, foi a mãe quem pegou o doutor Samuel (Eriberto Leão) de meia-calça, junto com o namoradão negro. Depois, a esposa o flagrou usando uma calcinha vermelha — que era dela.

Clara não deve baixar a bola tão cedo. Vai se vingar de um delegado pedófilo, do juiz corrupto de Palmas e, no grand finale, da vilã Sofia. Que mocinhas vingadoras são um trunfo não é segredo, ao menos desde os folhetins do século XIX. Assim como João Emanuel Carneiro fez no sucesso Avenida Brasil (2012), Carrasco bebe de um clássico do gênero: O Conde de Monte Cristo, do francês Alexandre Dumas (1802-1870). “É uma releitura”, diz. Mas, adepto da ordem espiritualista dos rosacruzes, Carrasco acrescenta um toque esotérico ao pacote: “Acredito fortemente na Lei do Retorno. Alguém que prejudica uma pessoa terá de volta a mesma energia”.

Suprema ironia, o começo deprimente da trama veio a calhar na nova fase: Clara apanhou tanto da vida que agora tem licença para rir com ar vilanesco e transbordar seu prazer quase erótico com a humilhação dos inimigos. É provável que, a certa altura, a novela aborde o ponto em que a vingança cega se volta contra a própria vítima. “Clara passará, sim, por uma reflexão. Um realinhamento de valores”, diz Carrasco. Resta saber se, até lá, a sede nacional de justiça será saciada.

Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2018, edição nº 2567

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