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Vida longa e próspera

Um novo estudo, com base em dados genéticos de 600 000 pessoas, mostra como hábitos estimulados pela configuração do DNA influenciam na longevidade

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 out 2017, 06h00 - Publicado em 27 out 2017, 06h00

“A expectativa de vida é um fenômeno estatístico. Mesmo assim, você ainda pode ser atropelado por um ônibus amanhã”, gosta de lembrar o americano Ray Kurzweil, cientista da computação, inventor e futurista — nome dado ao especialista em prever como viveremos daqui a alguns anos, ou mesmo séculos. Um dos focos dos estudos de Kurzweil, financiado por empresas como Google, é justamente mostrar como inovações da ciência de manipulação genética podem estender a vida humana. Para ele, em algumas décadas, o progresso tecnológico levará à seguinte situação: morrer será difícil, ainda que inexorável. O.k., entendido. Mas quão difícil? Se “a expectativa de vida é um fenômeno estatístico”, quais dados devem ser considerados para calcular a jornada? Nos últimos vinte anos, os avanços nas pesquisas genéticas levaram a conclusões precisas sobre qual seria a predisposição de cada indivíduo para viver mais, ou menos.

O mais recente trabalho nessa linha foi publicado em 13 de outubro pela Universidade de Edimburgo, na Escócia. Ele indica o caminho para uma resposta mais objetiva acerca dessa questão, sensível para qualquer um de nós. Baseado em informações genéticas de 600 000 indivíduos, o estudo descobriu, por exemplo, uma alteração que potencializa o efeito negativo de alimentos com o chamado “colesterol ruim”, como frituras (o que não significa, é claro, que essa predisposição de DNA seja sempre a responsável por disparar ou impedir o mau hábito na alimentação). Quem herdou tal configuração hereditária pode ter uma redução de oito meses, em média, na expectativa de vida. Já outra variação genética, ligada a melhoramentos no sistema imunológico, acarreta o oposto: um aumento de cerca de seis meses no tempo de permanência no mundo dos vivos. A pesquisa também ratificou o grau de periculosidade de hábitos como o fumo: o cigarro é responsável por 25% das mortes por doenças cardíacas, 30% por câncer de boca e 90% por câncer de pulmão. De acordo com o estudo escocês, independentemente dos males que se desenvolvem em consequência da nicotina, qualquer pessoa que fumar um maço de cigarros por dia terá sete anos a menos de vida.

“É crucial ressaltar, porém, que, apesar de ser impossível mudar nossa herança genética, não somos escravos dela. Afinal, podemos resistir aos impulsos desenhados em nosso DNA”, afirmou a VEJA o geneticista escocês Peter Joshi, o principal nome à frente do novo trabalho. Para contextualizar, explicou ele, imagine um homem com tendência a consumir mais açúcar e a praticar menos exercícios, resultando disso alguns meses a menos de vida, segundo a conta dos dados genéticos. Caso não cedesse à tentação, deixasse de comer doces e passasse a frequentar uma academia com regularidade, ele venceria o suposto déficit imposto por seus genes. “Também não podemos deixar de considerar o fator ‘sorte’ nesse cálculo”, acrescentou Joshi. “Sempre há exceções, como aqueles indivíduos que demonstram um estilo de vida nada saudável e ainda assim chegam a uma idade avançada. E vice­-versa”, destacou o geneticista.

Aos que não se fiam apenas na fortuna, a pesquisa oferece sugestões valiosas. Os estudiosos de Edimburgo descobriram uma série de variantes que levam a hábitos saudáveis, capazes de prolongar a existência. A predisposição a ter uma dieta com menor apreço pelo açúcar ou por pratos com “colesterol ruim” acarreta, como consequência, oito meses a mais de vida. Continuar estudando depois de atravessar o ensino médio — hábito avaliado como sendo 20% herdado dos genes dos pais — representaria um ano extra. “No fim das contas, o que mais colabora para a longevidade é uma boa educação, pois ela costuma proporcionar uma maior consciência de si e maior motivação para viver melhor”, diz Joshi. Ter bom-senso, na vida em geral, também é sem dúvida uma ajuda e tanto.

Cabeça de estudante

O hábito: continuar a frequentar cursos na vida adulta (Foram identificadas alterações genéticas típicas de quem se dedica mais aos estudos)

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O impacto na expectativa de vida: onze meses a mais a cada ano de aprendizado além do ensino médio


O perigo do tabagismo

(Negreiros/VEJA)

O hábito: fumar um maço de cigarros por dia (Ligado a genes que aumentam a vulnerabilidade à dependência química)

O impacto na expectativa de vida: sete anos a menos


Não são só uns quilinhos a mais

(Negreiros/VEJA)

O hábito: ser sedentário (Variações no gene Apoe aumentam a tendência a engordar)

O impacto na expectativa de vida: dois meses a menos a cada quilo acima do peso ideal, na fase adulta


Fast-food mortal

(Negreiros/VEJA)

O hábito: ingerir alimentos com “colesterol ruim”, como frituras, por exemplo (Pode-se herdar do DNA dos pais a tendência a desenvolver doenças pelo consumo de pratos mais gordurosos)

O impacto na expectativa de vida: oito meses a menos, mesmo que a pessoa esteja com o peso ideal

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Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2017, edição nº 2554

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