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Vai ter guerra?

Kim Jong-un aposta que não será atacado, pois tem 40 ogivas nucleares e até testou uma bomba de hidrogênio. Abaixo, outras respostas sobre a Coreia do Norte

Por Johanna Nublat e Luiza Queiroz
Atualizado em 8 set 2017, 06h00 - Publicado em 8 set 2017, 06h00

O conflito, o país e o líder são um enigma. A Coreia do Norte é, de longe, a nação mais fechada do mundo. Pouco se sabe sobre os planos do ditador Kim Jong-un, cujo regime testou, no último dia 3, com sucesso, o que pode ser uma bomba de hidrogênio — dez vezes mais potente que os artefatos atômicos modernos. Os Estados Unidos reagiram afirmando que estão prontos para a guerra. Se depender apenas das potências ocidentais, porém, dificilmente se chegará a tanto, pois os efeitos humanos e econômicos seriam catastróficos para todos. Para saber se Kim pretende atacar, é preciso entender suas motivações. VEJA respondeu a essa e a outras questões mais frequentes feitas pelos brasileiros no buscador Google.

1. O que Kim Jong-un quer?
O discurso oficial fala em autodefesa. Para os norte-coreanos, a sobrevivência do país depende de conquistar igualdade de forças com as potências inimigas, como os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul. Essa equivalência viria com a capacidade de investir contra qualquer um deles com armas nucleares. Com isso, a Coreia do Norte teria a garantia de que não será atacada. Para muitos analistas, essa meta já foi alcançada. Por trás do argumento defensivo, no entanto, é possível ler outras motivações. Com um arsenal atômico, hoje estimado em quarenta ogivas, Kim poderia usá-lo para chantagear outros países e obter alívio nas sanções econômicas. Entre as nações que podem ser pressionadas está a China, que exporta petróleo para a Coreia do Norte e é o principal parceiro econômico do país. “A China não tem boas soluções para a questão norte-­coreana e, provavelmente, vai voltar à sua fórmula de pedir calma de todos os lados”, diz o cientista político Stephan Haggard, da Universidade da Califórnia, em San Diego. Agora que a Coreia do Norte entrou para o clube das potências nucleares, porém, nada garante que Kim não se aventure em incursões militares na região. Uma hipótese é que ele estaria preparando o terreno para, no futuro, retomar a Guerra da Coreia (1950-1953), que dividiu o território entre o norte comunista e o sul capitalista. “Precisamos considerar que a Coreia do Norte pode estar falando sério quando diz que pretende reunificar a península coreana sob o regime da família Kim”, diz Nicholas Eberstadt, pesquisador do American Enterprise Institute, em Washington, especialista em segurança internacional na Ásia.

2. Por que a Coreia do Norte e a do Sul se separaram?
Na II Guerra, americanos e soviéticos lutaram na península da Coreia contra o império japonês. Os soviéticos chegaram pelo norte, bem depois dos americanos, mas ameaçavam tomar toda a região. Na noite de 11 de agosto de 1945, dois coronéis americanos pegaram um pequeno mapa da revista National Geographic e traçaram uma linha no território coreano, sobre o paralelo 38. O presidente Harry Truman apoiou a divisão. Josef Stalin também. Com supervisão da ONU, a Coreia do Sul realizou eleições em agosto de 1948. Nascia assim a República da Coreia, no sul. No mês seguinte surgiu a República Popular Democrática da Coreia, ao norte, já comandada por Kim il-Sung, o avô do atual ditador.

Perigo – Míssil de médio e longo alcance lançado pela Coreia do Norte, sem data (KCNA/Reuters)

3. Como a Coreia do Norte se tornou socialista?
Kim il-Sung, o fundador da dinastia, lutou na guerrilha contra os japoneses na Manchúria, no nordeste da China, nos anos 1930. Depois, foi levado para a União Soviética, onde foi treinado pelos comunistas. Os soviéticos o mantinham em suas Forças Armadas porque sabiam que ele um dia poderia servir a seus interesses. Kim il-Sung entrou em seu país praticamente anônimo junto com as tropas soviéticas que lutaram contra os japoneses na II Guerra. Em 22 de outubro de 1945, os soviéticos o apresentaram como um herói nacional em um grande estádio em Pyong­yang. Seu discurso foi escrito em russo pela seção política do Exército e traduzido para o coreano. Muitos não compreenderam os jargões marxistas misturados no texto. Bajulador de Stalin, Kim il-Sung imitou muito de suas políticas no início de seu governo. Nacionalizou fábricas, investiu na indústria pesada, expropriou terras, executou inimigos políticos e criou campos de trabalho forçado. A primeira Constituição do país, de 1948, foi inspirada na soviética, mas ainda não trazia o termo “socialista”, só incluído em 1972.

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4. Por que a Coreia do Norte é tão fechada?
Kim il-Sung, para sedimentar seu poder ditatorial, criou a miríade de ficções que costumam ornamentar regimes autoritários. Uma delas foi afirmar que a Coreia do Sul e os Estados Unidos é que invadiram o Norte, dando origem ao conflito. Para promover sua versão, ele fechou o país e passou a decidir o que cada um pode ler e ouvir. O isolamento também impede que a autoridade do ditador seja criticada. “Nos anos 1990, quando entre 600 000 e 3 milhões de norte­-coreanos morreram de fome, a propaganda dizia que o mundo inteiro estava no mesmo estado de caos, e que a Coreia do Norte estava melhor que o resto”, diz Greg Scarlatoiu, diretor do Comitê para os Direitos Humanos na Coreia do Norte, em Washington.

5. Por que os norte-coreanos querem atacar os Estados Unidos?
São inimigos históricos. Na Guerra da Coreia, bombardeiros americanos destruíram 85% das construções no norte para tentar forçar o país a se render. Com esse histórico beligerante, Kim il-Sung não teve dificuldade para incentivar o ódio aos Estados Unidos e, assim, criar uma razão para exercer o poder de forma autoritária.

6. Qual é a religião da Coreia do Norte?
A Constituição afirma que há liberdade religiosa. Contudo, todos os que tentam seguir uma religião são punidos. Quem é pego com uma Bíblia pode ser preso, levado a um campo de trabalho forçado ou executado. Numa transcrição totalitária do ateísmo do dogma comunista, o regime entende que a única devoção possível é a fé no regime e nos seus líderes e generais.

Pressão – Vladimir Putin com Xi Jinping: a punição a Kim depende da China (Wu Hong/Reuters)

7. Quem financia o país?
Mais de 80% das trocas comerciais do país são com a China, que importa carvão, minérios, roupas e peixes. Os norte-coreanos também ganham dinheiro com a venda de armas, de metanfetamina e com lavagem de dinheiro. “Pelo que se sabe, não venderam armas nucleares”, diz o americano Shea Cotton, especialista em relações internacionais no Instituto Middlebury, de Monterey, nos Estados Unidos. Entre os principais clientes estão o Irã e a Síria, do ditador Bashar Assad.

8. Como visitar a Coreia do Norte?
Não é possível viajar ao país de maneira independente. É preciso contratar uma agência de viagem especializada, que solicita os vistos de turista, compra as passagens, reserva hotel e contrata guias. Em todas as atividades fora do hotel, estrangeiros são acompanhados por guias norte-coreanos. Não é possível interagir livremente com a população. Fotos de integrantes das Forças Armadas ou de unidades militares não são permitidas. O pacote completo, partindo de Pequim, para cinco noites em Pyong­yang e incluindo uma visita à fronteira com a Coreia do Sul, sai por cerca de 6 000 reais.

9. Como sair de lá?
O norte-coreano pego tentando fugir é mandado a um campo de trabalho forçado. São raríssimos os casos de habitantes que conseguiram chegar à Coreia do Sul pela zona desmilitarizada, que separa os dois países. A maior parte dos que fogem o faz pela fronteira com a China. Em alguns lugares, o patrulhamento é menos intenso e é possível cruzar o Rio Yalu. Nos meses em que o rio está congelado, isso pode ser feito andando. No verão, é preciso nadar ou usar um barco. É imperativo tomar cuidado com as patrulhas chinesas, que costumam devolver os fugitivos.

Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2017, edição nº 2547

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