Theo Webert: No espírito da dieta
O nutrólogo que conquistou pacientes como o médium João de Deus alerta: antes de se preocupar com a beleza, é preciso tratar dos “fantasmas internos”
Por que decidiu ser nutrólogo? Talvez por acerto de contas com o passado. Meu pai era um caminhoneiro analfabeto. Não sei como chegava aos destinos sem saber ler as placas. Quando morreu, de cirrose, eu tive de ajudar minha mãe. Acordava às 4h30 para ralar coco — ela fazia doces. Virei obeso. Pesava 110 quilos aos 13 anos.
Qual era sua relação com a comida? Conflitante. Eu sabia que era errado comer porque iria engordar. Por outro lado, o doce me supria a ausência do pai. Os médicos só fizeram piorar essa angústia. Mesmo eu sendo adolescente, eles me receitavam inibidores de apetite sem questionar as causas do sobrepeso. Essas drogas aumentaram minha ansiedade e compulsão. Mas fiquei sereno ao encontrar minha linha de trabalho.
Quando isso aconteceu? Na faculdade, havia uma disciplina chamada medicina, arte e espiritualidade. As doenças precisam ser investigadas além dos limites do corpo.
Explique melhor, por favor. Muitos pacientes chegam pedindo para secar a barriga. Querem tomar hormônio e perder peso, ter gominhos. Acontece que essa busca pode esconder uma depressão, um casamento falido. Uma paciente era gorda porque havia sido violentada, e comia para não se sentir atraente. É preciso cuidar dos fantasmas internos antes de trabalhar a estética. Senão, há o risco de encontrar médicos picaretas.
Como identificar o picareta? Duvide de quem receita remédios sem pedir exames. Aparência boa não é sinônimo de saúde, ainda mais em tempos de redes sociais. A pessoa posta a foto linda, mas ninguém sabe seu custo emocional.
Como conheceu João de Deus? Depois do câncer dele, em 2015, passei a frequentar Abadiânia. Houve uma conexão espiritual. Quando vem a São Paulo, ele se hospeda em minha casa.
Publicado em VEJA de 29 de agosto de 2018, edição nº 2597