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Sem nós, o dilúvio

FHC defende a candidatura de Alckmin e diz que, sem uma coalizão para fazer frente à polarização Lula-Bolsonaro, o Brasil fica sujeito a tempestades

Por Thaís Oyama Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 dez 2017, 06h00 - Publicado em 1 dez 2017, 06h00

Fernando Henrique Cardoso diz que nada deixa um ex-presidente da República mais confortável dentro do seu partido do que a decisão de não pleitear o poder. “Se você fica aspirando a voltar, impede os outros de subir. Se deixa claro que não quer, todos gostam de você.” Na condição de postulante a nada e último árbitro do PSDB, coube recentemente a FHC apartar bem mais de uma discórdia no convulsionado ninho tucano. A última resolveu-se no domingo (26), com a indicação à presidência da sigla do governador Geraldo Alckmin — extraofi­cialmente ungido virtual candidato à Presidência da República. A VEJA, FHC falou das chances e dos desafios do partido em 2018.

O PMDB vai finalmente desembarcar do governo. Não demorou demais? Estar no governo foi uma transição que se impôs pela paralisação da gestão anterior e pelo impeachment. Mas, agora, se quer ter um candidato a presidente da República, o partido não pode ficar confundido com os outros partidos que estão no governo. Chegou a hora de dizer o que o PSDB é e a que veio.

Geraldo Alckmin é o melhor nome para isso? Primeiro: o governador Alckmin olha para o cofre, para a questão fiscal. Ele não vai levar o Brasil ao desatino a que foi levado. Segundo: ele é simples. Isso é importante porque a corrupção está ligada à falta de simplicidade. Ele é simples e honesto. E demonstrou que sabe montar boas equipes. O presidente da República tem de saber juntar gente e falar com as pessoas. Eu acho que o governador Alckmin pode fazer isso.

Contra ele, há o fato de ser um político tradicional, que não parece ser o que as pessoas anseiam ago­ra. Pode ser. Mas você tem hoje o presidente Lula, que a Justiça vai dizer se é ou não candidato, e em não sendo haverá alguém no lugar dele. E agora começa a emergir um candidato mais estruturadamente da direita. O que está faltando aqui? Organizar um centro democrático, progressista, que olhe para o povo. Está faltando esse personagem no meio.

Nesse centro democrático cabe o PMDB? O PMDB sempre se caracterizou por ser um partido fragmentado e por fazer maioria na Câmara. Outro dia eu ouvi o Jarbas Vasconcelos dizer que votaria no Geraldo Alckmin. Então, por que não? Você não pode pensar nos partidos como se fossem blocos homogêneos. Depois, pelo nosso sistema eleitoral, você faz alianças ou morre à míngua. É possível um outsider estourar e ganhar a eleição? É possível. Mas, depois, como é que ele vai governar? Para governar, você tem de saber mexer com o Congresso. Os que não foram capazes de levar o Congresso a sério caíram: Jânio, Collor, Dilma. Havendo democracia, você tem de prestar atenção ao Con­gresso. O Brasil está precisando que a gente organize esse tipo de centro progressista popular democrático. Senão, nós vamos ficar sujeitos a mais tempestades. Nosso candidato tem de ser alguém com capacidade para atrair pessoas diferentes. Agora, tem de ser favorável à Lava-Jato.

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Mesmo atingido no plano ético pelo episódio Aécio Neves, o senhor acha que o PSDB pode hastear a bandeira da ética na campanha? Moralmente, temos uma diferença: o PMDB, o PT e o PP estavam no centro de um sistema organizado. O PSDB não estava no centro desse sistema. Isso quer dizer que os tucanos não tenham errado? Não. Alguns erraram. Mas não foi o partido, essa é a diferença.

O senhor chegou a apoiar a candidatura de Luciano Huck? Eu gosto do Luciano, sou amigo do Luciano. Acho importante que uma pessoa como ele queira se dedicar à vida pública. Então, a certa altura listei também o Luciano Huck. Mas eu não apoiei a candidatura dele, apenas disse que ele estava aí. Agora, em política, você tem de ter realismo. Eu não sei o que o Luciano ainda vai fazer, mas não é tão fácil transformar popularidade em voto. A arena política é dura, e as pessoas que não estão habituadas a ela apanham.

Em suas palestras, o senhor tem se referido a um novo tipo de populismo. Bolsonaro seria um representante dessa linhagem? O modelo tradicional latino-americano de populismo é inclusivo: Perón, Chávez, Getúlio. Já o tipo Trump não é inclusivo — é excludente. É contra os muçulmanos, contra os imigrantes. É um populista excludente. Mas eu não posso dizer se Bolsonaro é um populista excludente porque não sei o que ele pensa. Ele não existe ainda como figura política. Existe como um sentimento de ordem, de repressão, isso de matar criminoso, não sei o quê. Eu não sei o que ele pensa.

Ele tem se apresentado como representante do pensamento liberal. Liberal ele nunca foi, votou contra as privatizações. Liberal não é. É autoritário. Pode vir a ser presidente? Pode. Mas precisa “ser” primeiro. Eu não sei o que ele é, o que pensa.

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Quais as chances de Alckmin não decolar e o país ficar entre Lula e Bolsonaro? O Lula está aí, tem apoio. Mas a política que ele fez no segundo mandato levou à Dilma, com todas as consequências que estamos vendo. Ele é responsável politicamente pelo desastre ocorrido. O candidato do PSDB vai ter de mostrar claramente ao povo quais são os riscos das outras opções. Estamos numa democracia, de repente o povo quer uma coisa equivocada. Mas, como sou otimista, acho que a gente tem chance de ir para um caminho melhor.

 

Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2017, edição nº 2559

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