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Sem ele, jogo zerado

Pesquisa revela que os candidatos à Presidência da República que se apresentaram até agora ainda não empolgaram os eleitores

Por Daniel Pereira Atualizado em 2 fev 2018, 06h00 - Publicado em 2 fev 2018, 06h00

Por enquanto, a decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) de condenar Lula a doze anos e um mês de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, teve efeito quase nulo no prestígio eleitoral do ex-­presidente. Segundo pesquisa Datafolha realizada depois do anúncio da sentença, Lula lidera a corrida presidencial em todos os cenários, com 34% a 37%, e registra pelo menos o dobro das intenções de voto do segundo colocado, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Lula também venceria os rivais no segundo turno por diferença de pelo menos 15 pontos porcentuais — 49% a 30% contra o governador Geraldo Alck­min (PSDB), 47% a 32% contra a ex-­ministra Marina Silva (Rede) e 49% a 32% contra Bolsonaro. Os números são praticamente os mesmos do levantamento anterior, realizado em novembro do ano passado. Já o quadro eleitoral mudou radicalmente. O julgamento do TRF4 tornou iminentes o pedido de prisão e a declaração de inelegibilidade do petista. Por isso, o Datafolha também mediu o que ocorreria se ele não for candidato. O resultado não deixa dúvida: com Lula fora do páreo, o jogo recomeça do zero.

Nos cenários em que Lula não é listado como presidenciável, 36% dos entrevistados dizem não ter candidato. Só a parcela de votos brancos e nulos chega a 32%, a maior já registrada pelo Datafolha. Haveria, portanto, mais de um terço do eleitorado à disposição no mercado. Bolsonaro, o pré-candidato mais bem colocado, registra apenas 20% e perde com folga para o voto “não” ou “ninguém”. Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), o contingente dos sem-candidato tende a diminuir com o início da campanha: “Mais cedo ou mais tarde, cairá a ficha do eleitor do Lula, que optará por um candidato ou outro”. O PT quer evitar essa migração ou, pelo menos, postergá-la. O partido pegou carona no recorde de votos brancos e nulos captado pelo Datafolha para dar fôlego à mobilização intitulada “Eleição sem Lula é fraude”.

Lula será proibido de concorrer porque foi condenado em segunda instância. A punição está prevista na Lei da Ficha Limpa, sancionada por ele quando era presidente da República. Os petistas apostam num recurso às Cortes superiores para livrá-lo da cadeia e da inelegibilidade. A chance de isso ocorrer, no entanto, é remota. Caso Lula seja proibido de participar da eleição, o PT deve lançar como candidato o ex-governador da Bahia Jaques Wagner ou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. O Datafolha dá pistas de como será difícil para Lula eleger de novo “um poste”. Wagner registrou apenas 2% das intenções de voto na pesquisa. Além disso, só 4% dos eleitores de Lula dizem que escolherão o ex-governador da Bahia caso não possam votar no ex-presidente, enquanto 15% optarão por Marina e 14% migrarão para Ciro Gomes (PDT). A debilidade de Wagner decorre, entre outras coisas, do fato de Lula insistir que é candidato a presidente. Se ele abandonar de vez esse papel e fizer campanha por Wagner, é bem provável que o ex-governador dê um salto nas pesquisas, já que 27% dos entrevistados afirmaram que votariam num candidato apoiado por Lula.

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Na largada – Bolsonaro, que no cenário sem Lula lidera a corrida presidencial,… (Antonio Milena/VEJA)

Legendas de esquerda que se aliaram ao PT em eleições passadas querem, com ou sem Lula nas urnas, fortalecer candidaturas próprias. Esse movimento ganhou força depois da condenação do ex-presidente. O PCdoB já tem pré-candidato, a deputada estadual Manuela d’Ávila. O PSOL ainda não escolheu o seu, mas promete fazê-­lo em breve. A pulverização de candidaturas, uma realidade até aqui restrita ao centro e à centro-­direita, tende a se repetir na esquerda. Apesar de liderar no primeiro e no segundo turnos, Lula enfrenta forte resistência no eleitorado. Dos entrevistados pelo Datafolha, 53% disseram que jamais votariam num nome apoiado por ele — o índice era de 48% em novembro. A rejeição ao ex-presidente também aumentou, dentro da margem de erro, de 39% para 40%. De Alckmin a Bolsonaro, os adversários do petista afirmam que, com essa taxa de rejeição, ele será derrotado no segundo turno. “Muito provavelmente o PT não será vetor de polarização nesta eleição. É possível que outro partido de esquerda assuma o protagonismo. Há a chance efetiva de uma candidatura de centro-direita vencer a disputa”, diz o doutor em ciência política Leonardo Barreto, da Factual Informação e Análise.

Na chegada – …perderia no segundo turno para adversários como Marina (Aílton de Freitas/Agência O Globo)

Mesmo condenado à prisão, Lula se mantém como protagonista porque seus rivais não decolam. Bolsonaro parou de crescer nas pesquisas, e uma das apostas correntes é que sua candidatura começará a derreter. “O naufrágio de Lula será o naufrágio de Bolsonaro. Sem o petista, Bolsonaro será o anti-quem?”, ironiza Fleischer. Marina, Alckmin e Ciro também estão estacionados. A situação do tucano parece ser mais complicada. Como Alckmin não levanta voo, voltaram a crescer as especulações em torno de uma candidatura do apresentador Luciano Huck, que entraria na sucessão com a expectativa de reunir boa parte dos partidos de centro. Huck está empatado com Alckmin em intenções de voto e, caso concorra, disputará com ele o apoio de partidos de médio porte. Numa eventual campanha, Huck será apresentado como o “novo”, o nome de fora da política tão ansiado pelos eleitores. Se vai colar, são outros quinhentos. O apresentador já tem uma taxa de rejeição à altura da de seus rivais mais diretos: 25%.

Políticos e analistas dizem que, com Lula inelegível, a sucessão fica totalmente aberta, o que significa que qualquer um pode sair vencedor, até mesmo um aventureiro. Interessados na aventura não faltam. Réu na Lava-Jato, o senador Fernando Collor de Mello (PTC) anunciou a intenção de concorrer novamente à Presidência. Collor entra no páreo com a segunda maior taxa de rejeição, ficando atrás apenas do presidente Michel Temer, que, nesse universo de incertezas, ainda nutre o sonho de disputar a reeleição.

Publicado em VEJA de 7 de fevereiro de 2018, edição nº 2568

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