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Risco insuspeito

Estudo conduzido no Brasil revela que o consumo de adoçantes — e nem precisa ser um consumo muito alto — pode reduzir a fertilidade da mulher

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jun 2018, 06h00 - Publicado em 22 jun 2018, 06h00

No mundo, 40 milhões de mulheres têm algum tipo de dificuldade para engravidar — 5 milhões delas estão no Brasil. Para cerca de metade, a técnica artificial de reprodução é uma alternativa. O número de mulheres que recorrem à fertilização in vitro, método de laboratório que forma o embrião fora do útero, aumentou 300% nos últimos trinta anos. Os motivos desse crescimento são compreensíveis. As chances de uma concepção natural resultar numa gravidez bem-­sucedida são de 30% para mulheres com idade de 20 a 30 anos. Depois dos 35 anos, esse índice cai para menos de 15%. Aos 40 anos, despenca para 5%. Já na fertilização in vitro, a taxa de sucesso chega hoje a 40%. Mas, apesar de relativamente alta, ela não se altera há pelo menos cinco anos. Agora, um novo estudo revela o que pode ser uma das barreiras a impedir o crescimento desse índice.

O estudo foi publicado na prestigiosa Reproductive BioMedicine Online, revista que representa oito sociedades médicas especializadas em reprodução de diversos países. Ele mostra que a ingestão diária, ao longo de seis meses, do equivalente a mais de uma lata de refrigerante nas versões light e zero, ou uma xícara de 240 mililitros de café adoçado artificialmente, reduz em até 30% as chances de gravidez pela técnica da reprodução assistida.

O consumo dos substitutos do açúcar reduz em até 30% a chance de gravidez in vitro e aumenta em 38% o risco de parto prematuro

O estudo constatou que a ingestão frequente de adoçantes prejudica a qualidade dos óvulos e reduz a taxa de sucesso de fixação do embrião no útero. Realizado pelas instituições brasileiras Fertility Medical Group e Instituto Sapientiae, o trabalho analisou 5 548 óvulos de 524 mulheres com idade média de 36 anos. Como todas as voluntárias haviam se submetido à técnica de reprodução assistida, as conclusões do estudo, por enquanto, só podem ser aplicadas às que recorrem a esse método de concepção. Ou seja: não se avaliou o efeito dos adoçantes no índice de uma gravidez natural.

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O estudo não informa se a redução ou a abstenção de adoçantes pode reverter os danos causados aos óvulos. Diz o médico Edson Borges, diretor da Clínica Fertility, em São Paulo, coordenador do trabalho: “O mecanismo exato de ação dos adoçantes ainda precisa ser estudado em detalhes, mas a hipótese mais provável é que eles deflagrem um efeito inflamatório no organismo da mulher”. A inflamação causada pelo contato crônico com o adoçante liberaria a citocina, substância que afeta a formação normal do óvulo e a saúde do útero.

Adoçantes já haviam sido associados ao parto prematuro. Uma pesquisa dinamarquesa, realizada pelo Instituto Statens Serum com 59 334 mulheres, concluiu que o consumo diário de pelo menos um refrigerante adoçado artificialmente aumentava o risco de parto prematuro em impressionantes 38%. A hipótese mais aven­tada nesse caso é que os compostos dos adoçantes são quebrados em substâncias químicas que alteram o ambiente uterino. Anor­malidades na função ovulatória são o principal problema das mulheres que não conseguem engravidar. Para elas, a descoberta dos brasileiros, além de abrir uma frente importante de pesquisas, pode significar o início da realização de um sonho.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588

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