Rebaixamento olímpico
Ex-presidente do COB, Carlos Nuzman foi preso em operação sobre compra de votos para influenciar a escolha do Rio como sede dos Jogos
Não que ele fosse assim um Zeus. Mas Carlos Nuzman, o poderoso presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), realizou lá suas façanhas. Manteve-se no posto por duas décadas sem que adversário algum ameaçasse seu reinado. Expandiu sua influência política em grau planetário com a candidatura e a vitória do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016. E na abertura do evento fez o discurso mais importante, que o mundo inteiro ouviu. Um ano depois, porém, raios e trovões desabaram sobre sua cabeça. Nuzman foi preso na Operação Unfair Play, braço brasileiro de uma investigação iniciada na França que desvendou um esquema de compra de votos para influenciar a escolha do Rio como sede dos Jogos. O ex-presidente do COB é acusado de ter feito a interface entre corruptos e corruptores — segundo os investigadores, sob as ordens do ex-governador Sérgio Cabral. Os dois, inclusive, dividiram o banho de sol na cadeia de Benfica, Zona Norte carioca, de onde Nuzman já saiu, e Cabral, não. O primeiro responde em liberdade pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A defesa nega as acusações. O segundo já coleciona condenações que somam 72 anos de prisão, e segue contando (é dele o recorde de inquéritos na Lava-Jato: quinze).
Benfica virou símbolo da implosão da política fluminense, rebaixada a níveis subterrâneos por uma combinação de irresponsabilidade e roubalheira. Passaram por lá mais dois ex-governadores — o casal Anthony e Rosinha Garotinho — e Jorge Picciani, o presidente licenciado da Assembleia Legislativa que fazia girar a máquina do onipresente PMDB. Rosinha está com tornozeleira, o marido trocou de presídio. Picciani continua hospedado no local. Agora, também o atual governador Luiz Fernando Pezão está na mira das investigações. Terão os deuses abandonado o Rio?
Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562