Quatro recados políticos transmitidos em frases de camiseta
Até o escritor francês Marcel Proust serviu de inspiração
- “Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema”
Ao deixar a embarcação que a trazia de volta da Ilha da Marambaia (RJ), no Natal, a futura primeira-dama Michelle Bolsonaro literalmente vestiu a camisa da estratégia política de seu clã (foto acima). A exemplo do presidente eleito e de seus rebentos, Michelle valeu-se de uma situação frugal para dar um recado e atrair holofotes: usou uma camiseta com a frase dita pela nova juíza da Lava-Jato, Gabriela Hardt, num momento de tensão durante depoimento dado por Lula.
- “Eu realmente não me importo, e você?”
Tornou-se um clássico do “método Trump” de comunicação o dia em que a esposa do presidente, Melania, desfilou na frente de fotógrafos com um casaco estampado com a frase de desdém. Mas a estratégia mirou um alvo e atingiu outro: Melania queria demonstrar sua indiferença pela imprensa, mas acabou insinuando não se importar com a celeuma das crianças ilegais apreendidas na fronteira com o México. No fim do episódio, ganhou a pecha de insensível.
- “O tempo é o senhor da razão”
A frase proferida à exaustão por Ulysses Guimarães, inspirada em Marcel Proust, tornou-se ferramenta de protesto de Fernando Collor em novembro de 1990, impressa numa camiseta que o então presidente usava durante uma de suas famosas corridas nos arredores da Casa da Dinda. Em 2014, ao ser inocentado dos crimes de corrupção que o levaram à renúncia, Collor repetiu a máxima.
- “A culpa não é minha, eu votei no Aécio”
Durante as passeatas pró-impeachment de Dilma Rousseff, vestir-se com frases de protesto era a última moda. Fizeram especial sucesso as peças que louvavam o senador tucano Aécio Neves, rival da petista no pleito de 2014. A mais famosa teve o ex-jogador Ronaldo como modelo ilustre. Ele chegou a subir em um carro de som na Avenida Paulista usando a roupa em apoio a Aécio — hoje freguês da Lava-Jato.
Publicado em VEJA de 2 de janeiro de 2019, edição nº 2615