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O travesti da família

Rogéria, a maior estrela transformista do Brasil, morreu na segunda-feira (4), no Rio, aos 74 anos. Bem antes da consagração da sigla LGBT, rompeu barreiras

Por Jerônimo Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 set 2017, 06h00 - Publicado em 8 set 2017, 06h00

Ele amava roupas de mulher desde criança. Na casa onde foi criado pela mãe, católica, que sempre apoiou suas escolhas, desfilava com um imaginário vestido longo. Entrou no meio artístico como maquiador e então trocou o pesado nome de batismo — Astolfo Barroso Pinto — por Rogério. Coube a Fernanda Montenegro, nos estúdios da TV Rio, dar o impulso final na transformação: a atriz disse ao maquiador que talento não depende de sexo. Aclamado pelo público como Rogéria em um show de transformismo nos anos 60, Astolfo/Rogério decidiu acolher o nome feminino. Foi como Rogéria que construiu uma das carreiras mais sólidas e duradouras do showbiz nacional, da era de ouro da Rádio Nacional — em que participava do legendário programa de Emilinha Borba — à televisão, na qual foi jurada do Chacrinha e atuou em telenovelas como Tieta. Rogéria, a maior estrela transformista do Brasil, morreu na segunda-feira 4, no Rio de Janeiro, em razão de uma infecção urinária que se agravou até culminar num quadro de septicemia. Tinha 74 anos.

Rogéria gostava de pontuar a ironia de ter nascido em Cantagalo (onde também foi enterrada), no interior do Rio de Janeiro, terra de Euclides da Cunha, segundo ela “o maior macho do Brasil”. Proclamava-se “o travesti da família brasileira”, e de fato alcançou uma surpreendente aprovação até entre os mais conservadores. Atuou no cinema e em shows teatrais — ao lado de Grande Otelo e Agildo Ribeiro, entre outros — nos anos 70, em plena ditadura, e não teve problemas com a censura. Bem antes da consagração da sigla LGBT ou do termo “trans”, Rogéria rompeu barreiras. Não era militante da causa gay porque não precisava ser. “Eu preciso ser engajada? Eu sou o engajamento. Eu sou a bandeira de tudo isso que está aí”, declarou a O Globo, no ano passado, quando foi lançada a biografia Rogéria, uma Mulher e Mais um Pouco, de Marcio Paschoal. Sua veia de humorista evidenciava-se até nas entrevistas, sempre rápidas e ferinas. Ela não perdia a elegância nem sob ataque. Quando uma foto em que aparecia seminua foi retirada de uma mostra no Congresso, em 2007, deu o recado aos parlamentares brasileiros: “Esse pessoal ficou chocado porque sou honesta”.

Os brasileiros gostam de mim porque nunca fiquei dentro do armário, nunca neguei que fosse homem. Sou autêntica.

Rogéria (1943-2017)

Foi em uma temporada em Paris, no início dos anos 70, que Rogéria assumiu a persona feminina em tempo integral. Ainda assim, nunca renegou Astolfo: era seu nome e sua identidade primeira. Rogéria, dizia, era um personagem. Pois foi Astolfo Barroso Pinto quem morreu de uma prosaica infecção urinária. Rogéria apenas saiu de cena.

Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2017, edição nº 2547

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