Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O populismo vence

Os partidos tradicionais e com propostas mais ao centro são castigados pelos eleitores italianos, repetindo o que já aconteceu em outros países europeus

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h25 - Publicado em 9 mar 2018, 06h00

“Vivemos num mundo de espaços abertos, o que significa também certa desproteção”, escreveu o filósofo espanhol Daniel Innerarity no livro A Política em Tempos de Indignação (Leya), lançado no ano passado. Segundo ele, as migrações e a diminuição do cobertor social levaram cidadãos do mundo todo a sentir medo. Os que se assustaram com a insegurança econômica penderam para o populismo de esquerda. Os que temeram pela identidade nacional, para o de direita. Nas eleições da Itália, no domingo 4, o país foi dividido entre esses dois populismos. No sul, saiu-se vitorioso o Movimento Cinco Estrelas, invencível nas áreas mais afetadas pelo desemprego. Também em nível nacional, o Cinco Estrelas foi o partido mais votado, com 32%. No norte, ganharam os nacionalistas da Liga (antiga Liga Norte), mais fortes nas cidades que receberam maior número de imigrantes. No cômputo geral, eles alcançaram 18% dos votos.

Quem amargou derrotas irrecorríveis foram as forças tradicionais e de centro. Uma delas é o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, que governou o país por cinco anos. Ficou com 18%, 7 pontos porcentuais a menos em comparação com a eleição anterior, em 2013. O Forza Itália, de Silvio Berlusconi, de centro-direita, levou 14%, uma queda de 7 pontos. O resultado, assim, assemelha-se ao de outras eleições europeias, em que o centro político perdeu terreno para os extremos. Foi assim na Espanha, na Alemanha e na França. “O PD foi punido principalmente porque estava no governo. No referendo da reforma constitucional de dezembro de 2016, ele já tinha sido castigado”, diz o cientista político Paolo Segatti, da Universidade de Milão.

A sina dos dirigentes europeus é que as medidas de austeridade continuam sendo necessárias e sobra pouco dinheiro para executar as políticas públicas. Ao mesmo tempo, eles sofrem uma cobrança popular acima do normal. Embora a economia italiana tenha voltado a crescer (1,5% em 2017), a insatisfação não arrefece. Para piorar, o debate sem moderação nas redes sociais e as opiniões polarizadas elevam o grau de exigência em relação ao governo. Os populistas, porém, prometem o que não podem cumprir e, com isso, não há quem assuma a responsabilidade pelas questões mais urgentes. “A política é uma forma de canalizar as emoções sociais, de maneira que se tornem construtivas, e não destrutivas”, escreveu Innerarity. “O populismo é precisamente uma reação à falta de política.”

Publicado em VEJA de 14 de março de 2018, edição nº 2573

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.