Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O nó dos novatos

O “novo” era para ser a estrela das eleições, mas os presidenciáveis cogitados para encarnar esse papel ainda não conseguiram decolar nas pesquisas 

Por Daniel Pereira, Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 fev 2018, 06h00 - Publicado em 9 fev 2018, 06h00

Diante dos escândalos de corrupção suprapartidários e da altíssima rejeição ao Congresso e ao governo, pareciam favas contadas: os nomes de fora da política tradicional despontariam como favoritos na campanha deste ano. Além dos analistas, os próprios líderes dos principais partidos partilhavam dessa impressão, tanto que, para desidratá-la, passaram a manifestar preocupação com a vitória de um “aventureiro” ou um “salvador da pátria” na corrida presidencial. Nos discursos, o “novo” aparecia como ameaça ao “velho” e incomodava até Lula, o líder nas pesquisas agora convertido em ficha-suja. A oito meses da eleição, porém, são só dois os pré-candidatos novatos — e ambos têm 1% de intenção de voto. Outros dois nomes reúnem porcentuais superiores, mas nada que, até aqui, supere os rivais da política tradicional.

Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa tem conversado com diferentes partidos desde o ano passado. As negociações avançaram depois que uma pesquisa fez duas constatações favoráveis: Barbosa é o nome com o maior potencial de crescimento, e a qualidade que o eleitor mais valoriza num candidato é a intolerância à corrupção. A combinação dos dois indicadores animou Barbosa, que se tornou ícone do processo do mensalão ao sentenciar à cadeia a antiga cúpula do PT. Com 5% na rodada mais recente do Instituto Datafolha, o ex-ministro negocia para ser o candidato do PSB. Depois da segunda condenação de Lula, conversou com o marqueteiro Diego Brandy, que trabalhou na campanha presidencial do PSB em 2014, e com o advogado Acilino Ribeiro, que assumirá a secretaria de movimentos populares do partido. Desde janeiro, já se reuniu com dirigentes e deputados do PSB.

“Temos outros candidatos, mas, no quesito eleitoral, não há dúvida de que o ministro é o mais forte”, admite Acilino Ribeiro. “Joaquim Barbosa tem uma grande capacidade de captação de apoio nos setores mais populares e despolitizados.” Barbosa não descarta uma aliança com o próprio PT e só manifesta restrições a composições com PSDB, MDB e DEM. Ele, no entanto, não corre sozinho. O PSB já tem dois pré-candidatos a presidente, o ex-ministro Aldo Rebelo e o ex-deputado federal Beto Albuquerque, ambos da “velha política”. Barbosa teme perder a disputa interna para eles e, caso vença, ser abandonado pelos correligionários durante a campanha. Sua preocupação é pertinente. “Na política, temos de fazer mais do que apenas investigar, julgar e dar sentenças. Temos de construir consenso, dialogar e compreender essa dinâmica. Se o Joaquim Barbosa se filiar, será muito bem-vindo. Daí a ser candidato é outra discussão”, diz Albuquerque. Quem quiser disputar a Presidência tem até 7 de abril para se filiar a algum partido.

8% – Luciano Huck – O apresentador alcançou os melhores índices de intenção de voto nas pesquisas (Werther Santana/Estadão Conteúdo)

O apresentador Luciano Huck é o novato mais bem cotado nas pesquisas, embora seus 6% o deixem tecnicamente empatado com outro representante da “velha política”, o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Huck já declarou que não disputará a eleição, mas não conseguiu convencer todo mundo. Pediu que seu nome continuasse sendo testado nas pesquisas e, na semana passada, recebeu um senhor empurrão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que incentivou publicamente sua candidatura. “É bom ter gente como o Luciano porque precisa arejar, botar em perigo a política tradicional, mesmo que seja do meu partido”, disse FHC em entrevista à rádio Jovem Pan. Não é uma manifestação isolada. Com Alckmin empacado nas pesquisas, cresce entre os políticos do centro a vontade de lançar Huck. Mas o apresentador tem dois dilemas à frente. Primeiro, para concorrer, terá de deixar a Globo e seus patrocinadores, mudando radicalmente de vida. Segundo, precisará montar uma coligação competitiva, o que requer sangue, suor e sorte. Nada garante que o PSDB, presidido por Alckmin, cerraria fileiras com Huck. O PPS está de portas abertas para o apresentador. Diz o presidente do partido, deputado Roberto Freire: “O que nos resta é representar a perspectiva do novo. O Huck é forte nos grotões”.

1% – João Amoêdo – A bandeira do “novo” é empunhada pelo candidato do Partido Novo, mas ainda não empolgou (Lailson Santos/VEJA)

Até agora, a bandeira do “novo” é empunhada por João Amoêdo, do Partido Novo, e pelo presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, do PSC, mas ambos patinam miseravelmente nas pesquisas. Amoêdo prega a cartilha liberal e quer abocanhar eleitores desencantados com o PSDB e avessos ao radicalismo direitista de Jair Bolsonaro, o vice-líder nas sondagens. Os desafios de Rabello de Castro são ainda mais espinhosos. Ele foi alvo de um mandado de busca e apreensão no âmbito da investigação que apura desvios no Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios. Motivo: uma empresa dele, segundo os investigadores, avalizou um negócio que resultou em prejuízo de 109 milhões de reais ao Postalis. Rabello de Castro nega qualquer irregularidade.

Continua após a publicidade
1% – Paulo Rabello – Candidato pelo PSC e alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (Daniel Stone/Futura Press/Folhapress)

Para Mauro Paulino, o diretor-geral do Datafolha, representar o “novo” pode ajudar um candidato, mas não se constituirá em fator decisivo. “O eleito será aquele que conseguir transmitir soluções para as principais aflições dos brasileiros, como segurança pública, saúde e estabilidade econômica. Será também aquele que melhor fizer frente ao ambiente de rejeição aos políticos em geral, cujo pano de fundo é a corrupção.”

Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2018, edição nº 2569

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.