O ditador bombástico
Farpas entre Kim e Trump correram em paralelo a uma intensa atividade da Coreia do Norte, que por vezes pareceu colocar o mundo à beira de uma guerra
Impropérios contra americanos e habitantes da Coreia do Sul não são novidade no fraseado dos tiranos da Coreia do Norte. O regime comunista, afinal, é fundado na ideia de que é preciso defender seus moradores contra os bárbaros estrangeiros, principalmente os imperialistas ianques e seus fantoches do Sul. Em 2017, o ditador Kim Jong-un e sua imprensa estatal capricharam ao chamar Donald Trump de “velho lunático” e “sujeito depravado e estúpido”. Nada fora do comum. Novo mesmo foi Kim ter encontrado um parceiro para o bate-boca cheio de ofensas. De sua parte, o presidente dos Estados Unidos chamou Kim de “homenzinho do foguete”, “tirano perturbado” e “baixo e gordo”.
Trocas de farpas correram em paralelo a uma intensa atividade militar da Coreia do Norte, que por vezes pareceu colocar o mundo à beira de uma guerra de verdade, com consequências catastróficas. Em setembro, a ditadura de Kim alardeou ter testado com sucesso uma bomba de hidrogênio. Foi o sexto teste nuclear desde 2006. Enquanto desenvolviam novas ogivas, os norte-coreanos dispararam uma sequência de mísseis, alguns dos quais cruzaram o céu japonês. Embora eles tenham caído em águas próximas sem causar danos, o objetivo da ação era convencer o mundo da capacidade de acertar qualquer ponto do território americano, missão que foi cumprida no fim de novembro.
Para alguns especialistas, Kim ainda precisa provar que detém a tecnologia necessária para que suas ogivas consigam retornar ilesas à atmosfera. Para outros cientistas, esse passo já foi dado. Ainda que nenhum país tenha confirmado isso oficialmente, o fato é que a Coreia do Norte se tornou uma potência nuclear, com capacidade para levar destruição a metade do planeta. Para Kim, esse reconhecimento é a garantia de que ele não sofrerá um ataque americano e poderá evitar ter a mesma sina do líbio Muamar Kadafi. O ditador árabe desistiu do seu programa nuclear, foi bombardeado por caças do Ocidente e morto em 2011, em um dos capítulos mais cruentos da Primavera Árabe.
Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562