Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Não pedale, Meirelles

Com o déficit correndo solto, governo suspende o reajuste do Bolsa Família e reduz a prestação de serviços à população — tudo para evitar magias contábeis

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 jul 2017, 06h01 - Publicado em 8 jul 2017, 06h00

A suspensão da emissão de passaportes pela Polícia Federal e a redução das atividades da Polícia Rodoviária Federal nas estradas, que chamaram a atenção dos brasileiros nos últimos dias, são dois sintomas de um mal maior: o Estado brasileiro enfrenta uma grave crise de limitação de recursos. De janeiro a maio, o governo gastou 35 bilhões de reais a mais do que arrecadou, um rombo quase 50% maior em relação ao observado no mesmo período de 2016. O resultado foi influenciado pela antecipação do pagamento de 10 bilhões de reais em precatórios (pagamentos de causas judiciais) em maio, mas isso não muda o fato de que, nas atuais circunstâncias, o governo terá dificuldade para cumprir a meta fiscal a que se propôs para 2017: encerrar o ano com um déficit de 139 bilhões de reais. Nos doze meses acumulados até maio, o rombo chegou a 168 bilhões de reais. No mercado, poucos analistas acreditam que o governo vá cumprir a meta, em razão dos efeitos da crise política sobre a economia real. Buscar o reequilíbrio das contas públicas é fundamental para recuperar a capacidade de investimento do Estado e para reduzir o custo do capital, o que estimulará a retomada do crescimento econômico.

A principal razão para o aumento do déficit é o fraco desempenho das receitas, que caíram 2% neste ano. Na outra ponta, o governo até tem se esforçado em reduzir gastos neste momento de crise. Os reflexos são sentidos em serviços como a emissão de passaportes, mas não só. Foi abandonada a ideia de reajustar os benefícios do Bolsa Família, cujo poder de compra foi corroído pela inflação. O governo estuda ainda acabar com o abono salarial, um complemento pago a salários inferiores a dois mínimos. Enquanto os mais pobres saem perdendo, as despesas com a Previdência subiram 14,5 bilhões de reais nos cinco primeiros meses do ano.

(Arte/VEJA)

Diante das dificuldades orçamentárias e com as reformas paralisadas pela crise política, o governo busca maneiras de engordar o caixa. Se tudo caminhar dentro do previsto, poderá receber 28 bilhões de reais de privatizações, a exemplo de rodovias e terminais portuários. Mas há dúvidas sobre o interesse privado e a própria capacidade do governo de pôr esses ativos à venda. Outros 22 bilhões de reais podem vir dos programas de repatriação de recursos do exterior e de regularização de dívidas em atraso (o Refis). Entraram em análise iniciativas como a privatização de usinas hidrelétricas e a abertura de capital da Infraero. O plano de venda no setor elétrico poderia render até 53 bilhões de reais nos próximos anos.

Continua após a publicidade

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já não descarta um aumento de impostos para cumprir a meta. Seria uma alternativa menos pior que a reedição das pedaladas contábeis. Mas, antes de a sociedade ser novamente chamada a bancar a conta dos desajustes públicos, cabe ao governo redobrar os esforços para cortar seus gastos e empenhar-se pela aprovação das reformas.

Publicado em VEJA de 12 de julho de 2017, edição nº 2538

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.