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Memórias de um amante latino

Sidney Magal completa cinquenta anos de carreira com a gravação de um DVD, uma biografia e dois filmes para celebrar seu rebolativo sucesso

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 ago 2017, 06h00 - Publicado em 5 ago 2017, 06h00

Certa vez, Sidney Magal recebeu a seguinte avaliação de um executivo de gravadora: “Você tem a carreira mais perigosa que conheço, pois vive na corda bamba. Se cair para cá, vai virar brega de quinta categoria. Se for para lá, vão acusá-lo de tentar se sofisticar e será rejeitado pelo grande público”. O cantor não se lembra do ano em que a conversa ocorreu, mas nunca se esqueceu da reação do mesmo executivo, quinze anos depois, ao vê-lo numa premiação da música brasileira. “Ele deu um tapinha nas minhas costas e disse: ‘Conseguiu, hein?’ ”, diverte-se. Magal realizou um feito maior do que simplesmente sobreviver às idiossincrasias do mercado. Virou um emblema pop, cuja influência vai de Wesley Safadão (herdeiro de seu rebolado) à MPB derramada de uma Ana Carolina — que, aos 7 anos, encantava as freguesas do salão de cabeleireiros onde a mãe trabalhava com uma versão de Meu Sangue Ferve por Você, um dos hits do cantor carioca. “Eu era uma menina tímida. Mas, quando cantava essa música, subia na cadeira e fazia até a escova de microfone”, diz ela.

Cigano de araque – Nos anos 70: camisa aberta e calça de toureiro que atiçavam as fãs (Adhemar Veneziano/)

Em 2017, Magal ganhará uma série de homenagens pelos cinquenta anos de carreira. Em 17 de agosto, grava um DVD em São Paulo com participação de — ela mesma — Ana Carolina e outros convidados especiais. O intérprete da imortal Sandra Rosa Madalena também será tema de Sidney Magal: Muito Mais que um Amante Latino, biografia da escritora Bruna Ramos da Fonte que chega às livrarias em outubro. No fim do ano, iniciam-se as filmagens de Meu Sangue Ferve por Você, cinebiografia calcada especialmente no romance dele com Magali, com quem é casado há 37 anos. Vaidoso, o cantor sugeriu que Mateus Solano vivesse o Magal da ficção (ainda não se sabe quem encarará o papel). O projeto renderá ainda um documentário sobre a trajetória musical do cantor.

Sidney Magalhães, de 64 anos, já foi acusado de ser “cigano de araque, fabricado até o pescoço” — em Arrombou a Festa II, música de Rita Lee. Sua trajetória inspira desconfiança desde a origem. Ele iniciou a carreira participando de programas de auditório e até gravou um single com um nome internacional fajuto — era Sidney Ross. Como não deu certo, Magalhães (o Magal veio depois, por sugestão de um empresário italiano) foi participar de um musical de teatro de revista, excursionando pela Europa com repertório de samba e MPB. Na segunda metade dos anos 70, Magal despertou o interesse do selo Polydor, que o contratou. Mas o sucesso viria de sua união com o empresário e produtor Roberto Livi. O argentino radicado no Brasil encantou-se com sua futura, digamos, “criatura” quando o viu se apresentar numa pizzaria. “Ele entrava cantando Maracangalha. Mas não era como os cantores daquele período, que imitavam o Roberto Carlos. Já era aquele Magal rebolativo”, diz Livi, que ajudaria Magal com o repertório, inventou sua falsa origem cigana e colaborou até com alguns bordões. “Eu é que costumava falar o ‘ahora’ e o ‘comigo’ que se ouvem em Sandra Rosa Madalena”, jacta-se o argentino. O casamento artístico entre Magal e Livi rendeu sucessos que até hoje fazem parte do repertório do cantor, como Tenho e Meu Sangue Ferve por Você.

Durante uma viagem a Salvador, em 1979, Magal conheceu Magali West, que tinha 16 anos e nunca morreu de amores pela música do cantor. Foi uma paixão imediata: ele disse que a adolescente era o amor da vida dele e a pediu em casamento após três encontros. A união de Magal e Magali impulsionou a conversão do amante latino em cantor romântico com cabelos engordurados de gomalina — mutação que afastou fãs de primeira hora. Ele amargou dez anos sem um novo sucesso, até ressurgir como cantor de lambada, então ritmo da moda, na canção Me Chama que Eu Vou, tema da novela Rainha da Sucata, de 1990.

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Nostalgia – Magal, como animador de festa: antes visto como brega pelos universitários, hoje é amado por eles (Lailson Santos/VEJA)

O Sidney Magal de hoje vive basicamente dos sucessos da década de 70, quando usava sapatos de salto alto e uma apertada calça de toureiro. Seu público, no entanto, sofreu uma inversão irônica. “Os universitários sempre me chamavam de cafona. Hoje, sou requisitadíssimo para cantar em baladas de faculdade”, diz. O fenômeno tem sua razão de ser. As festas temáticas com repertório popularesco dos anos 70 e 80 transformaram em cult tudo aquilo que era considerado brega. Por fim, a persona de Sidney Magal por vezes é maior que a música. O riso solto (“Às vezes nem me anuncio ao telefone. Basta soltar aquela risada que a pessoa logo me reconhece”, diz), a dança extravagante e o porte, vá lá, imponente fazem parte do imaginário de muita gente que cresceu nas décadas de 70 e 80 — amor que os fãs acabariam transferindo para os filhos. Alheio a teorias e modismos, Magal permanece lucrando com o saudosismo cult. Só o corpinho já não é o mesmo. “Como ganhei peso, não entro mais na minha antiga calça de toureiro. Se pedem aquele visual dos anos 70, falo logo para cancelarem o show.” Até um calejado amante latino tem seus limites.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2017, edição nº 2542

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