Márvio Lúcio (Carioca):“Fomos revolucionários”
O humorista do 'Pânico na Band' diz que o programa está chegando ao fim, mas o grupo não vai acabar
Como você e seus colegas receberam a notícia do fim do Pânico? Fomos informados de que estaremos na Band só até dezembro. É claro que ficamos tristes. Há cerca de 100 pessoas que trabalham lá. Só eu, tenho 21 anos de programa no rádio e catorze de TV. Mas o grupo não vai acabar: continua no rádio e pode ir para outra emissora.
Como veterano da trupe, onde acha que o programa errou? O Pânico revolucionou o humor na TV. Em 2003, quando estreamos, a televisão era extremamente careta. A Globo exibia a novela Celebridade e vivíamos um tempo em que era proibido criticar celebridade. Era só “oi, linda, como você tá maravilhosa”. O Pânico confundiu. Dávamos 18 pontos na RedeTV. Tem noção? Uma nova geração de humoristas surgiu como nunca se viu no país.
Sim, mas agora o programa acabou. Por quê? O Pânico perdeu muitos talentos. Muitos cresceram nas redes sociais e conquistaram sua autonomia artística. Embora eu tenha um bom número nas redes (6 milhões de seguidores no Facebook e no Instagram), nunca pensei assim. Fiquei preocupado em sair e atrapalhar o programa. Mesmo sabendo que já não passávamos por um momento fácil, cheguei a um acordo com os colegas, por uma questão de carinho. Ajudei a construir aquilo ali. É difícil largar.
Seu quadro Mitadas do Bolsonabo, no qual imita Jair Bolsonaro, tem repercutido. Não teme levantar a popularidade do original? Não estou preocupado em saber se levanta ou não. Sou humorista e minha preocupação é tratar de personagens que são assunto. Sou atento aos fatos. Se eu disser que ele é um político irrelevante, estarei mentindo. O cara lota aeroportos quando chega, enquanto o Lula força uma caravana em que aparecem umas dez cabeças. O humor é uma crônica, e eu sou um cronista contemporâneo.
Como as pessoas reagem nas ruas quando o senhor vive o Bolsonaro? Não vejo rejeição, porque aquilo é uma brincadeira. O Bolsonabo é um palhaço, assim como o Amaury Dumbo era. Eu o criei como um personagem que sempre dá fora em todas as pessoas. Mas vou contar um segredo que me agrada: com esse personagem, pude driblar o politicamente correto e falar de assuntos que hoje são tabu, como feminismo e machismo. Driblei essa coisa chata do politicamente correto. Para mim, é a maior vitória.
O senhor sempre imitou políticos, como Lula, Dilma e Alckmin. Por que não faz Temer? Tentei e não consegui. Não sou o Chico Xavier do humor. É esquisito. Tem personagens que vêm, e chego até a pensar como a pessoa. Com Temer, não rolou.
Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2017, edição nº 2554