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Marmitas e palavrões

Lula parou de ver seu julgamento após o segundo voto, quando ouviu fogos de artifício espocando no centro de São Bernardo

Por Ullisses Campbell
Atualizado em 30 jul 2020, 20h28 - Publicado em 25 jan 2018, 06h00

O ex-presidente Lula deixou de assistir à transmissão de seu julgamento antes de o terceiro desembargador, Victor Laus, começar a proferir o voto que selaria a sua condenação unânime. Numa sala do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, o petista mostrou-­se incomodado ao ouvir o espocar de fogos de artifício no centro da cidade após o segundo voto condenatório, proferido pelo revisor Leandro Paulsen. Antes de deixar o local, ainda ouvindo os estampidos, disse que aquilo era “coisa” do prefeito da cidade, o tucano Orlando Morando.

Lula vestia uma camiseta vermelha e estava acompanhado na sala por cerca de trinta pessoas, entre amigos, sindicalistas e lideranças petistas. Na hora do almoço, a direção do sindicato mandou buscar em um restaurante das proximidades quarenta marmitas contendo arroz, feijão, carne e, em embalagens separadas, salada. Diante da TV, o petista reclamou que o relator João Pedro Gebran Neto, o primeiro a votar, estava “enrolando” para dar seu veredicto. Afirmou que Gebran Neto era “amigo íntimo” do juiz Sergio Moro e, em alguns momentos, dirigiu-­lhe palavrões. Depois do voto do relator, disse aos que o cercavam: “Milhares de brasileiros são condenados injustamente no Brasil. Agora faço parte dessa estatística”.

Na véspera do julgamento, Lula havia estado em Porto Alegre, onde fez um comício para 70 000 pessoas. Ao viajar, contrariou os conselhos de seus advogados. Eles lhe disseram que, a poucas horas do início da sessão no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), seria ruinoso se atacasse em público os desembargadores da 8ª Turma. A essa parte do conselho o ex-presidente obedeceu. No evento, afirmou que não comentaria o processo. “Primeiro, porque eu tenho advogados competentes que já provaram minha inocência. Segundo, porque eu acredito que aqueles que vão votar (os desembargadores) deverão se ater aos autos do processo, e não às convicções políticas de cada um.” Na terça-feira 16, em comício no Rio de Janeiro, o petista dissera que o presidente do TRF4, desembargador Thompson Flores, seria “bisneto de um general que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro”, cometendo nisso uma sucessão de imprecisões.

Antes de ir a Porto Alegre, Lula passou a manhã de segunda-feira tirando dúvidas sobre o processo com seus advogados e amigos petistas. O receio de ser preso fez com que checasse a possibilidade, repetidas vezes, junto a seus defensores. Chegou a perguntar-lhes se, em caso de ir preso, seria algemado. Ouviu em resposta que não, já que Moro, no despacho em que determinou a condução coercitiva do petista, em 2016, proibiu expressamente o uso de algemas. Também perguntou a advogados em que presídio ficaria, caso fosse preso. A resposta: Complexo Médico Penal do Paraná, situado nos arredores de Curitiba. Mas foi alertado de que, em seguida à prisão, poderia fazer um pedido de transferência para um presídio de São Paulo. À noite, Lula vestiu uma camiseta preta e foi a um novo comício no centro de São Paulo — onde a orelha da Justiça prometia arder como nunca.

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“Julgamento viciado”

O advogado de Lula, Cristiano Zanin, falou a VEJA logo após a condenação do petista:

Esperava por esse resultado? De forma alguma. A defesa está surpresa porque esse resultado é incompatível com as provas, com a lei e com a Constituição Federal.

Como o ex-presidente o recebeu? Ele está bem, dentro do possível. Disse-lhe que, lamentavelmente, os desembargadores desprezaram a técnica jurídica e o fator político foi bastante relevante.

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Quando o ex-presidente pergunta se será preso, o que o senhor responde? Não há essa possibilidade neste momento. Na minha opinião, diante das particularidades do julgamento de hoje, achamos que é possível reverter essa condenação em instâncias superiores. O que nós vimos no TRF4 foi um julgamento viciado, nulo e até injusto, pois a acusação teve o dobro de tempo da defesa. Não haverá nenhuma possibilidade de que se tome uma medida nesse sentido contra o ex-presidente.

Agora, a candidatura de Lula está mais distante. Como esse projeto será tratado daqui para a frente? Do ponto de vista jurídico, esse resultado não impede que o ex-presidente, caso queira, registre sua candidatura e concorra nas eleições de 2018.

Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2018, edição nº 2567

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