Marcelo Serrado: “Perdi a vontade de falar de política”
O ator, que apoiou o impeachment de Dilma e agora acompanha o grupo de artistas que encampou o “Fora, Temer”, fala de sua desilusão com a política
O senhor agora aparece em fotos ao lado de Caetano Veloso e Letícia Sabatella, artistas que não apoiaram o impeachment. Como se deu essa união? Aí é que está: chega de brigas de esquerda e direita. Quero a união da minha classe e que isso se multiplique na sociedade. Foi uma iniciativa da Paula (Lavigne, produtora) e do Wagner (Moura, ator). Eles me chamaram, e eu levei mais gente que pensa de uma forma não tão polarizada.
A hora, então, seria de união pelo “Fora, Temer”? Sim. Antes, todo mundo viveu um lado. Entendemos que agora acabou esse negócio. Todos estão juntos nessa. O pessoal do grupo é bem consistente, e é bom porque a gente pode ouvir pessoas muito diferentes. Precisamos nos unir. É essa união que nos move. Pena que, dias depois do nosso primeiro encontro, o TSE decidiu não cassar a chapa Dilma-Temer. Aquilo realmente foi um banho de água fria para nós. Seria simplório achar que nada aconteceu de corrupção na chapa da Dilma e do Temer. As coisas estão muito claras.
Que tipo de coisas o senhor discute com o grupo? Tenho falado de dois pontos: a união da classe em apoio à Lava-Jato, que provou que não é seletiva e pega todos, e as dez medidas anticorrupção, principalmente o fim do foro privilegiado. Mas não sou porta-voz de ninguém, sou um artista. Digo tudo isso, mas confesso que perdi completamente a vontade de falar sobre política.
Por quê? Porque a gente vê que todos os políticos estão juntos. Eles podem ter divergências, mas um absolve o outro. Há tempos, vi um senador de esquerda tomando café com Renan Calheiros, depois que os dois apareceram brigando na TV. Você fala bem de um cara e, no dia seguinte, ele vira notícia roubando. E você fica como “o cara que defendeu o fulano”.
O senhor ainda é chamado de coxinha? Não. Eu não tenho partido nem ladrão de estimação. Para mim, roubou, tem de ser preso. Esses termos, “coxinha” e “mortadela”, são uma bobagem. É coisa de internet. Lá, fala-se qualquer coisa. Como vou debater com um cara que me xinga e ameaça a minha família? Aprendi a não discutir com seitas.
O senhor será visto como o juiz Sergio Moro no filme Polícia Federal — A Lei É para Todos. Aceitou por motivação política? Não. Aceitei porque achei o papel interessante. O filme não levanta bandeira. Ele conta a história do começo da operação, com a investigação sobre o doleiro Alberto Youssef, à condução coercitiva do Lula.
O senhor está em Pega Pega, que vem conquistando bons índices de audiência. Qual a razão do êxito? Na novela houve um roubo de 40 milhões de dólares e discute-se: até que ponto vale a pena você roubar? A trama fala de ética — um tema acertado para o momento.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2017, edição nº 2539