Manifestações históricas no Brasil, da Abolição à ditadura militar
Machado de Assis, em uma crônica de 1893, recorda que o 13 de maio de 1888 “foi o único dia de delírio público que me lembro ter visto"
- Abolição da escravatura (1888)
O século XIX não conheceu a profusão de manifestações contra e a favor do governo que testemunhamos no XXI. O movimento abolicionista, porém, foi a primeira grande causa nacional, levando multidões a comícios. Machado de Assis, em uma crônica de 1893, recorda que o 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel sancionou a Abolição, “foi o único dia de delírio público que me lembro ter visto” (o próprio escritor, em geral reservado, desfilou em carruagem aberta no Rio de Janeiro). Quatro dias depois, Machado participou também da grande missa campal que celebrou a Abolição, no campo de São Cristóvão (foto acima).
- Sufragismo (1917)
Fundadora do Partido Republicano Feminino, Leolinda Daltro foi uma pioneira da campanha pela extensão do direito ao voto às mulheres. Liderou passeatas pelo país, sobretudo em 1917, no Rio e em Salvador. A primeira eleição em que as mulheres votaram foi a de 1933.
- Revoada dos Galinhas Verdes (1934)
A Ação Integralista Brasileira jamais teve a força do fascismo italiano, movimento que a inspirou. Em outubro de 1934, os integralistas, com camisas verdes, tentaram mostrar sua organização em uma marcha na Praça da Sé, em São Paulo. Foram escorraçados por anarquistas e comunistas.
- Marcha da Família com Deus pela Liberdade (1964)
Organizada pelo deputado federal Antônio Sílvio Cunha Bueno, do PSD, a marcha que tomou o centro de São Paulo em 19 de março foi uma resposta ao Comício da Central do Brasil, seis dias antes, no qual o presidente João Goulart elevou o tom da retórica esquerdista. Deu sustentação ao golpe que o deporia, em 31 de março. A ditadura, por sua vez, também foi combatida por multidões nas ruas — o evento mais famoso foi a Passeata dos Cem Mil, no Rio, em 1968.
Publicado em VEJA de 5 de junho de 2019, edição nº 2637