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Lá vai flecha, lá vem flecha

Às vésperas de deixar o cargo, o procurador-geral da República prepara o último bote contra o presidente Michel Temer, mas também vira alvo

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 ago 2017, 06h00 - Publicado em 12 ago 2017, 06h00

A cinco semanas do fim do seu mandato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, corre contra o tempo. Depois que sua denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção foi sepultada pela Câmara, o chefe do Ministério Público está sob pressão. Até agora, no embate travado entre os dois, prevaleceu a força fisiológica de Temer e sua tropa de aliados. Janot não quer sair perdendo e, a quem pergunta, recorre à metáfora do bambuzal — ainda há flechas para lançar. Sair sem atacar, ou atacando com flechinhas frágeis, passaria a impressão de derrota, embora uma investigação criminal não seja uma competição. As próximas semanas, portanto, serão decisivas.

A nova acusação deverá ter como eixo o testemunho do doleiro Lúcio Funaro, ex-operador do PMDB. Em sua proposta de delação, ele já confirmou que a JBS, a maior processadora de carnes do mundo, tentou comprar seu silêncio com o aval de Temer. Nas tratativas do acordo, Funaro se dispôs a confessar que operava para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e também para outros aliados de Temer — daí viria o interesse do presidente em mantê-­lo calado, segundo a acusação feita pelo empresário Joesley Batista, da JBS. A possível delação do próprio Cunha pode ampliar o arsenal de Janot. Nos últimos dias, por entenderem que o ex-deputado não está contando tudo o que sabe, auxiliares do procurador-geral endureceram a negociação. Ameaçam não aceitar o acordo, embora reconheçam que as revelações prometidas por Cunha sejam comprometedoras.

Se, de um lado, Janot se arma para disparar suas flechadas, do outro lado o Planalto faz o que pode para con­tra-atacar. Na semana passada, a defesa de Temer pediu ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), que declare a suspeição do procurador nos processos contra o presidente. Do mesmo modo que os advogados de Lula lançam suspeitas contra o juiz Sergio Moro, os defensores de Temer dizem que a atuação de Janot “denota um inusitado empenho pessoal no ato de acusar, que beira o sentimento de inimizade nutrido contra o presidente”. Se acolhido o pedido, o procurador estaria impedido de atuar nos casos que envolvem Temer, mas as chances de êxito são praticamente nulas — tanto quanto as de Lula em sua tentativa de afastar Moro. Para completar, Fachin negou um pedido de Janot para incluir Temer no inquérito do chamado “quadrilhão”, que apura se políticos do PMDB formavam uma organização criminosa.

O cabo de guerra entre os dois continua esticando. Na terça 8, apenas algumas horas após ter pedido ao STF o afastamento de Janot, o presidente se reuniu com Raquel Dodge, a sucessora do procurador, no Palácio do Jaburu. O encontro foi realizado à noite, fora da agenda. Para Temer, foi um tento a favor, por realçar que sua guerra é com Janot e não com a Procuradoria. Para a procuradora, que assume o cargo em setembro, pegou mal. Oficialmente, os dois garantem que, por uma hora inteira, debateram a cerimônia de posse de Raquel.

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Pegou mal – Raquel Dodge: visita ao Jaburu e auxílio-moradia (Pedro Ladeira/Folhapress)

A guerra, claro, já chegou ao terreno da desmoralização pessoal. Na quarta-­feira, o site Poder360 revelou que Janot aluga um apartamento para um de seus principais auxiliares. Não há nada de anormal no negócio, à exceção de um detalhe matematicamente curioso: o valor do aluguel, de 4 000 reais, está bem acima do preço de mercado para o imóvel e coincidentemente aproxima-se dos 4 377 reais do au­xílio-moradia que os procuradores recebem. A suspeita: terá o aluguel sido inflado para abocanhar quase todo o auxílio-moradia? A farra do auxílio-moradia também resvalou em Raquel. Ela é dona de uma confortável casa em Brasília, mas nos últimos anos, assim como a maioria de seus colegas, passou a receber o auxílio. Na quinta-feira, indagada por VEJA se efetivamente recebia o benefício, Raquel apressou-se em mandar sua assessoria dizer que estava abrindo mão do auxílio. Só agora.

Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2017, edição nº 2543

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