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Imagens inéditas

Registros da preparação da seleção para a Copa de 1958 revelam os bastidores e a ingenuidade da primeira grande conquista do futebol brasileiro

Por Alexandre Salvador Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 mar 2018, 06h00 - Publicado em 23 mar 2018, 06h00

Elizete Cardoso acabara de lançar Canção do Amor Demais, um LP diferente de tudo o que se fizera até então, cuja primeira canção tinha a batida estranha do violão de um certo João Gilberto em Chega de Saudade. Juscelino Kubitschek preparava-se para inaugurar o Palácio da Alvorada numa Brasília que brotava do cerrado. Oito anos depois da derrota para o Uruguai, no Maracanã, a pátria de chuteiras ainda sofria do complexo de vira-lata, na definição inesquecível de Nelson Rodrigues. Era esse o jeito do Brasil até a chegada da seleção à Suécia, com conexão na Itália, para disputar a Copa de 1958. O resto é história.

Pelé mal entrado na adolescência, aos 17 anos (Antonio Lucio/.)

Daquele tempo da delicadeza há pouca lembrança, os registros são escassos, mas a jornalista paulistana Silvia Herrera acaba de iluminar essa quadra vitoriosa da vida brasileira. Do baú de guardados do seu pai, o fotógrafo Antonio Lucio (1930-2000), vencedor de dois Prêmios Esso de Jornalismo, ela garimpou um lote de fotografias inéditas daquela época em que ensaiávamos tomar o mundo pela bola. Até junho, as joias fotográficas vão aparecer em livro, A Seleção Nunca Vista, financiado por meio de crowdfunding, com texto de Antero Greco.

O reserva Moacir, na cadeira do dentista Mário Trigo (Antonio Lucio/.)

O trabalho de Antonio Lucio captura a fase inicial de treinamento da delegação da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), ainda no Brasil. Antes de chegar à Europa, a seleção passou por Poços de Caldas, Araxá, Rio de Janeiro e São Paulo. Lucio foi um dos poucos fotógrafos autorizados a acompanhar a estada de onze dias do escrete, em abril de 1958, na mineira Poços de Caldas. Levava a tiracolo uma câmera Rolleiflex. O que as chapas revelam é o fim de um tempo romântico, amador, e o início de outro, profissional.

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O atacante Mazzola recebendo cuidados da manicure do Hotel Palace (Antonio Lucio/.)

Os dirigentes brasileiros — a CBD era presidida à época por João Havelange — decidiram formar uma comissão técnica multidisciplinar. No plano de Havelange e do empresário paulista Paulo Machado de Carvalho (que dá nome ao estádio paulistano do Pacaembu), as dúvidas sobre o grupo de 33 jogadores — reduzidos a 22 antes do embarque — deveriam ser solucionadas ainda no Brasil. Para zelar pela saúde dos jogadores, foram todos submetidos a exames de sangue e consultas com o dentista Mário Trigo. Os jornais da época noticiaram que mais de 420 radiografias odontológicas foram feitas no período de concentração. Contra o complexo de vira-lata, havia “exames psicotécnicos” feitos pelo médico João Carvalhaes e mimos como fliperama e serviço de manicure. A atávica falta de fôlego era combatida pelo preparador físico Paulo Amaral com o chamado “método dinamarquês”, que priorizava exercícios sem bola nos primeiros dias, com práticas hoje risíveis que incluíam o criativo uso dos travessões como barra para flexão. As fotos são quase comoventes — Garrincha não aparece porque ficara no Rio, depois de operar as amígdalas — e têm a pureza de um Pelé mal entrado na adolescência, aos 17 anos, na antessala da glória que completa sessenta anos.

Publicado em VEJA de 28 de março de 2018, edição nº 2575

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