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Falta soltar os quadris

Com 'Deus Salve o Rei', a Globo volta a pisar em um terreno desafiador: a fantasia. A novela medieval não é caso perdido, mas precisa melhorar o rebolado

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 fev 2018, 06h00 - Publicado em 23 fev 2018, 06h00

O Brasil se acostumou a ver Bruna Marquezine pulando Carnaval ou trocando carícias no Instagram com o namorado e craque Neymar. Mas essa informalidade passa longe da vilã Catarina, que Bruna vive na novela Deus Salve o Rei. Eis aí uma princesinha de quadris duros. “Posso garantir-vos que não há motivo para preocupação”, disse a personagem, toda empertigada, num diálogo típico levado ao ar recentemente na trama das 7 da Globo. Catarina engatou na solenidade, e foi dessa forma até o fim: “Não vejo razões para continuar escutando tais acusações e impropérios”.

Ainda que imbatível na empolação, ela não é a única figura assim na novela. No mesmo capítulo, Marco Nanini surge envergando o manto e a respeitável cabeleira lambida do rei Augusto, pai de Catarina e governante de Artena, um dos reinos fictícios do folhetim. O rei ouve com ar grave a promessa feita por um guerreiro às vésperas de uma batalha: “Preparar-me-ei para partir assim que Vossa Majestade desejar”. Não se sinta estranho, leitor, se você olhar para Vossa Majestade e tiver a sensação de ver o eterno Lineu de A Grande Família.

Deus Salve o Rei se passa num hipotético recorte medieval da Inglaterra do século XIII. Mas, desde que estreou, em 9 de janeiro, as falas de seus personagens evocam mais os discursos de saudação à mandioca da ex-presidente Dilma Rousseff e as mesóclises de seu sucessor, Michel Temer. Esse não é o único indício das dificuldades de trazer o universo de fantasia de séries como Game of Thrones para dentro das comédias ligeiras das 7. Com audiência de 25 pontos em São Paulo, Deus Salve o Rei não vai propriamente mal, mas a direção da emissora acha que ainda não mostrou tudo o que se espera de uma produção tão ambiciosa. Contando com uma trinca de “influenciadoras digitais” formada por Marina Ruy Barbosa, Bruna Marquezine e Tatá Werneck, a novela já soma mais de 500 000 menções nas redes sociais. O visual emula as séries americanas: cenas de estúdio fundem-se com paisagens europeias e figurantes multiplicam-se com a ajuda da computação. “Vimos a chance de brincar com um universo que chegou para ficar”, diz o diretor Fabrício Mamberti.

Os problemas começam quando se olha além da embalagem. A fantasia é um gênero que rendeu sucessos como Que Rei Sou Eu? (1989), mas fiascos do tamanho de Bang Bang (2005). O desafio é abraçar a fantasia sem menosprezar os elementos básicos do folhetim, como o romantismo e certa conexão com a vida das pessoas. Antes mesmo de fazer sua tradicional pesquisa qualitativa para avaliar a novela, iniciada na quarta-feira 21, a Globo antecipou o esforço para, bem, salvar Deus Salve o Rei. O ponto crítico é a narrativa dispersiva de Daniel Adjafre, roteirista de séries que faz sua estreia em novelas. Em vez de realçar o enredo central, que conta como o príncipe Afonso (Romulo Estrela) abdicou do trono para ficar com a plebeia Amália (Marina Ruy Barbosa), o folhetim se alonga em tramas paralelas, como as trapalhadas do rei Rodolfo (Johnny Massaro).

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Deus Salve o Rei é, enfim, uma fantasia sem rebolado. Séries como Game of Thrones têm violência, sexo explícito e outros temperos adultos que não cabem no horário das 7, em que há de crianças a avós diante da TV. “Temos o cuidado de não exibir sangue e não agredir a família”, diz Mamberti. As falas empoladas também são alvo de reclamação — e já estão sendo corrigidas. Curiosamente, Marina Ruy Barbosa teve mais sorte que Bruna Marquezine nesse quesito: como sua personagem é uma camponesa, ela fala de um jeito menos enfeitado que o da princesa. Ao menos na fantasia, mais vale ser pobretona que esnobe.

Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2018, edição nº 2571

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