As candidaturas à Presidência foram registradas junto ao TSE. O momento é delicado. O sociólogo político americano Larry Diamond, professor da Universidade Stanford e pesquisador do Hoover, um think tank conservador, chama o processo que o mundo experimenta atualmente de recessão democrática. Um termo bastante útil, que descreve a erosão dos regimes democráticos pelo mundo. O Brasil não é exceção, as tendências preocupantes estão todas aqui também. A queda na qualidade do debate público é inegável, o ceticismo com relação aos processos de participação popular é enorme. O povo rejeita quem está no poder e parece pouco animado com as alternativas.
A mais recente pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira — resultado da parceria do Ibope com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), lançada no início de agosto — mostra que esse pessimismo é maior entre as mulheres. Comparando-se homens e mulheres, entre nós o próprio interesse na eleição é mais baixo, os índices de indecisão são mais altos e a propensão a votar nulo ou em branco é maior. São números recentes que fazem eco ao que pesquisas anteriores já revelavam. Diante desse cenário, vemos candidatas e candidatos articulando-se para comover esse eleitorado, que, ao mudar de ideia, pode definir a disputa presidencial.
Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), entre outros, buscaram completar suas chapas com mulheres candidatas à Vice-Presidência. A candidatura do PT se aproximou da de Manuela D’Ávila (PCdoB), embora o desenho final da chapa ainda esteja sujeito a reviravoltas. A candidata Marina Silva (Rede) tem procurado reiterar posições que distensionem sua relação com o movimento por direitos das mulheres. Até mesmo Jair Bolsonaro (PSL) tem substituído o discurso misógino, que sempre lhe foi característico, por falas de caráter apenas profundamente sexista. É pouco, mas não deixa de ser revelador. Somados, esses fenômenos corroboram a tese de que quem almeja a faixa presidencial em 2019 sabe da importância do eleitorado feminino em 2018.
Contudo, cabe lembrar às chapas que dialogar com o eleitorado feminino significa bem mais do que garantir a diversidade formal das candidaturas e adotar fontes elegantes e cores como o rosa e o roxo em seus materiais de campanha. Conquistar nosso voto implica escutar nossas demandas — e elas são muitas. Outra pesquisa da CNI oferece algumas dicas a quem realmente quiser nos ouvir. O desemprego é o mais citado pelas mulheres entre os principais problemas do país. Os homens preferem citar a corrupção. Quanto às prioridades que devem mobilizar o próximo governo, mulheres preocupam-se sobretudo com mudanças sociais, em especial melhorias na saúde e redução da desigualdade. Além dessas pautas, claro que desejamos ver avanços e interditar retrocessos em temas que nos são historicamente caros, como o combate à violência contra a mulher. Enfim, somos muitas. Estamos desconfiadas. Mas temos interesses e estamos dispostas sempre a discuti-los. Queremos que nosso ceticismo seja dissolvido por propostas e pela vontade verdadeira de nos entender e atender.
Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2018, edição nº 2596