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Educação aos filhos não é vacina

Precisamos dialogar com eles a respeito de tudo

Por Rosely Sayão
Atualizado em 1 set 2017, 06h00 - Publicado em 1 set 2017, 06h00

Será a família a única instituição responsável pela formação dos filhos? Um fato decorrente dos conflitos raciais que aconteceram em Charlottesville, nos Estados Unidos, pode nos ajudar a entender mais e a refletir a respeito do papel da família na formação dos mais novos. Eu me refiro à carta escrita e publicada na internet pelo pai de um dos manifestantes.

Nessa carta, o pai do jovem que compareceu à marcha afirmou que o filho não será bem-vindo aos encontros familiares enquanto não renunciar às suas ações e retórica racistas. Destaco o trecho que nos guiará nesta conversa: “Nós não sabemos especificamente onde ele aprendeu essas crenças. Ele não as aprendeu em casa”. Já consideramos realista a ideia de que tudo o que os filhos aprendem — ou deixam de aprender — é responsabilidade da família. A frase “Educação vem de berço” é uma síntese desse pensamento.

Se um filho usasse drogas, tivesse comportamentos socialmente inadequados, abandonasse os estudos e/ou coisas similares, era a família tida como a grande responsável por tudo. Acontece que o mundo mudou muito. Hoje, filhos de todas as idades conhecem o universo adulto em seus detalhes, muitas vezes sórdidos: assistem aos noticiários com reportagens sobre qualquer assunto, navegam — muitas vezes sem tutela — pela internet quase livremente, têm páginas nas redes sociais, produzem vídeos e os publicam, acompanham de perto os chamados “influenciadores digitais”, comunicam-se por mensagens instantâneas com colegas e conhecidos — e recebem por aplicativos uma enormidade de mensagens com conteúdos totalmente livres e nem sempre fiéis aos fatos. Isso tudo sem falar da observação atenta que eles fazem do comportamento dos adultos de modo geral.

Mas será que isso significa que pouco pode fazer a família em relação à formação dos filhos? Não! A família pode fazer muito por eles: educá-los para que respeitem as diferenças, para que sejam honestos e justos, para que sejam virtuosos, respeitosos, solidários, e muito mais. Entretanto, o grupo familiar deve ter conhecimento de seus limites. Mais do que nunca, hoje vale muito o provérbio africano “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, não é mesmo? E nossa grande aldeia global não caminha lá muito bem. Por isso, é necessário dialogar com os filhos a respeito de tudo o que eles aprendem, observam, testemunham fora de casa.

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De pouco adianta ocultar deles pensamentos, fatos, comportamentos, concepções, ideologias etc. com os quais a família não pactua. Os filhos estarão sempre em contato com o mundo, é irreversível. Vale mais ouvir o que eles pensam acerca de tudo para encontrar um caminho para o diálogo com suas ideias. Podemos educar um filho de um jeito e, a partir do momento em que ele puder caminhar com as próprias pernas e fazer as próprias escolhas, é possível que ele decida fazer tudo diferente do que aprendeu com os pais: é o livre-arbítrio. A educação que damos aos filhos é a melhor herança que podemos deixar a eles, mas não é vacina contra nada.

Publicado em VEJA de 6 de setembro de 2017, edição nº 2546

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