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Diagnóstico: desgoverno

O projétil atingiu a bacia de Claudineia dos Santos Melo, de 29 anos, grávida de nove meses de Arthur, cujo peito foi perfurado

Por Luisa Bustamante Atualizado em 22 dez 2017, 06h00 - Publicado em 22 dez 2017, 06h00

Arthur Cosme de Melo nasceu de uma cesárea de emergência. Chorou baixo, foi entubado logo em seguida e submetido a uma drenagem do tórax. Ele havia sido baleado na tarde de 30 de junho, na entrada de uma favela de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, quando ainda estava dentro do esconderijo escuro, silencioso e acolhedor que era o útero de sua mãe. O projétil atingiu a bacia de Claudineia dos Santos Melo, de 29 anos, grávida de nove meses de Arthur, cujo peito foi perfurado. Ele ainda resistiu bravamente — mas morreu quando ia completar 1 mês de vida. Os pais, entre lágrimas de indignação, enterraram o filho que nunca chegaram a levar para casa. Dois meses depois, a polícia identificou os responsáveis.

Segundo as investigações, o tiro que matou Arthur partiu da arma do bandido Romário Conceição da Silva, que mirava uma viatura da Polícia Militar estacionada perto do local onde Claudineia tentou se esconder. O chefe do tráfico da favela do Lixão, Charles Jackson Batista, também foi responsabilizado, já que foi dele a ordem de atacar os PMs. A estúpida morte de Arthur chocou o país, mas a violência que grassa no Rio de Janeiro desde que o estado perdeu o controle das finanças e o poder público ficou ao deus-dará não diminuiu por causa disso. Ao contrário: só faz aumentar. Foram doze homicídios por dia, em média, neste 2017 — 4 429 vítimas da insegurança e da brutalidade que avançam no desgoverno.

No começo de dezembro, uma jovem grávida de cinco meses perdeu o bebê ao ser atingida por uma bala no Complexo do Alemão, antes cartão-postal de uma política que pretendeu retomar territórios que estavam nas mãos de bandidos, mas ficou só na boa intenção. A violência contra as crianças em áreas conflagradas tira vidas até dentro das escolas: Maria Eduarda Ferreira, a Duda, de 13 anos, foi alvejada em março no pátio, durante a aula de educação física, por um policial em confronto com traficantes. Conter risco, nesse inferno, significa cerrar as portas. No ano letivo inteiro, só houve onze dias em que a totalidade das escolas municipais do Rio funcionou. Sim, isto mesmo: apenas onze dias. Nesse compasso, o primeiro dia de aula de 2018 tende a ser igual a todos os outros: mais um dia de guerra. Ah, sim, os assassinos de Arthur continuam foragidos.

Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562

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