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Derrubando o troço todo

General defende golpe militar e é poupado de punição após operação “panos quentes” orquestrada pelo comando do Exército e apoiada pelo ministro da Defesa

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 set 2017, 06h00 - Publicado em 22 set 2017, 06h00

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, notabilizou-se nos últimos anos por seu comportamento equilibrado na condução da tropa. Em tempos de impeachment e manifestações apaixonadas nas redes sociais, o comandante dava aula de serenidade ao falar dos três pilares de sua gestão: estabilidade, legalidade e legitimidade.

Na semana passada, o general Antonio Hamilton Mourão, secretário de economia e finanças do Exército, precisou de alguns minutos para chegar perto de implodir a boa imagem de seu superior. Ao ser questionado em uma plateia de maçons em Brasília sobre uma eventual “intervenção constitucional com emprego das Forças Armadas”, Mourão admitiu abertamente a possibilidade de um golpe militar no país. “É óbvio, né, que, quando nós olhamos com temor e com tristeza os fatos que estão nos cercando, a gente diz: ‘Pô, por que não vamos derrubar esse troço todo?’ Na minha visão, a minha visão, que coincide com a dos meus companheiros do Alto-Comando do Exército, nós estamos numa situação daquilo que poderíamos lembrar lá da tábua de logaritmos, ‘aproximações sucessivas’. Até chegar o momento em que ou as instituições solucionam o problema político pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos de impor isso”, disse o general. E detalhou o que significaria “impor isso”: “Nós temos planejamentos, muito benfeitos. Então, no presente momento, o que que nós vislumbramos… os Poderes terão de buscar a solução. Se não conseguirem, né, chegará a hora que nós teremos de impor uma solução. E essa imposição não será fácil, ela trará problemas, podem ter certeza disso aí”.

Contrariar superiores em público configura grave transgressão às normas militares. É desnecessário dizer o que representa expressar o desejo de “impor uma solução” ao país. O general Mourão sabe disso e seus comandantes também. Esperava-se, portanto, que ele fosse justa e prontamente punido. O que se seguiu, porém, foi uma sucessão de trapalhadas e malsucedidas tentativas de pôr panos quentes no episódio.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, divulgou nota na segunda-feira 18 dizendo que havia discutido com o comandante Villas Bôas “medidas cabíveis” a ser tomadas em relação a Mourão. Já Villas Bôas afirmou que, depois de falar com o subordinado, considerou o caso “encerrado”. Na terça-feira, ao mencionar o episódio no programa Conversa com Bial, da Rede Globo, aumentou a confusão ao citar um inexistente trecho do artigo 142 da Constituição (da “iminência de caos” no país) que justificaria uma intervenção militar. Por fim, na quarta-­feira, comandante e ministro se reuniram e concordaram em dar o assunto por encerrado. O general Villas Bôas faria uma manifestação pública reafirmando o compromisso do Exército com a estabilidade do país, e o general Mourão, que deve ir para a reserva em poucos meses e tem pretensões eleitorais no Clube Militar, seria poupado do vexame de uma punição. Com isso, Jungmann escancarou os limites da sua autoridade junto à Força — e o comandante Villas Bôas deixou escapar uma boa oportunidade para mostrar que põe em prática o que defende na teoria.

Publicado em VEJA de 27 de setembro de 2017, edição nº 2549

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