Datas: Sirio Maccioni, Luiz Alfredo Garcia-Roza e John Houghton
O restaurateur, o escritor e o físico
Está bem, as pessoas iam ao restaurante de cozinha francesa Le Cirque, em Nova York, para apreciar a pasta primavera, com deliciosas azeitonas e tomates-cereja inacreditáveis, ou para fechar o banquete com um creme brûlé dos deuses. Mas iam também ao endereço, dentro do Mayfair Hotel, na franja do Central Park, para o beija-mão ao dono da casa, o risonho ítalo-americano Sirio Maccioni. Com sorte, topava-se por lá com Frank Sinatra, Tom Wolfe, a elite de Wall Street e todo o “quem é quem” de Manhattan (inclusive alguns mafiosos de carne e osso que ajudaram a desfazer a boa fama do lugar). Endividado, o Le Cirque fechou a portas em 2004, marco do fim de uma era. Maccioni ensaiou um novo local, em 2006, mas era a história se repetindo como farsa. Ele tinha 88 anos. Morreu na segunda-feira 20, na cidade em que nasceu, Montecatini, na Toscana italiana.
Investigador da mente
Foi na maturidade, aos 60 anos, que Luiz Alfredo Garcia-Roza se arriscou na literatura pela primeira vez. De tradição acadêmica — foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se formou em filosofia e psicologia —, o carioca lançou, em 1996, O Silêncio da Chuva. Na obra, dois assassinatos desencadeiam uma complicada investigação conduzida pelo inspetor Espinosa, protagonista que continuaria a dar as caras em outras tramas assinadas pelo autor. A estreia veio logo acompanhada de um Prêmio Jabuti. Garcia-Roza se aposentou e passou a se dedicar exclusivamente à escrita. Foram doze romances policiais, em que ele intercala mistérios e dilemas morais sob a ótica freudiana. Para Garcia-Roza, a selvageria humana era uma ciência a ser estudada. Sua prosa fluida e instigante mostrou-se vocacionada para o cinema e a TV: Achados e Perdidos e Berenice Procura são alguns dos seus livros que ganharam adaptações. Uma versão de O Silêncio da Chuva, com Lázaro Ramos como Espinosa, está em fase de produção. Luiz Alfredo Garcia-Roza morreu na quinta-feira 16, aos 84 anos, por complicações de um acidente vascular cerebral sofrido em 2019, no Rio de Janeiro.
O senhor do clima
Sir John Houghton, físico e pesquisador inglês, foi uma das vozes mais influentes do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, entidade que em 2007 ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Houghton acelerou, nos anos 1980, a investigação aprofundada sobre a poluição provocada pelo gás carbônico e como era urgente freá-la. Ele morreu no País de Gales, aos 88 anos, em decorrência da Covid-19. Outro cientista do IPCC, o brasileiro Sérgio Trindade também perdeu a vida em março, vitimado pelo coronavírus, aos 79 anos.
Publicado em VEJA de 29 de abril de 2020, edição nº 2684