As acusações contra Plácido Domingo — e outros fatos da semana
As acusações contra o tenor e a morte de Rosie Ruiz e Jeffrey Epstein
No mundo erudito, os maestros um dia reinaram como tiranos intocáveis, muitas vezes convertidos em predadores sexuais. Na era do movimento #MeToo, isso mudou. Em 2018, o italiano Daniele Gatti, da Concertgebouw de Amsterdã, foi despedido depois que duas cantoras o acusaram de abuso. Agora, um novo escândalo atingiu a reputação do tenor e regente espanhol Plácido Domingo. Oito cantoras e uma dançarina vieram a público fazer denúncias de assédio sexual contra o astro do canto lírico, de 78 anos. Os avanços teriam começado na década de 80. O tenor demonstrava encantamento por artistas iniciantes e as convidava para visitas a seu quarto de hotel. As que resistiam eram ameaçadas de boicote.
Às primeiras acusações, somaram-se relatos de outras mulheres que trabalharam com Domingo. Em sua defesa, ele disse que as relações foram consensuais — o argumento de sempre. Mas o estrago está feito. A Orquestra da Filadélfia e a Ópera de São Francisco cancelaram récitas do tenor. A Ópera de Los Angeles, da qual Domingo é diretor artístico, e a Ópera de Washington, que ele dirigia na época dos abusos iniciais, prometeram uma apuração rigorosa. O caso foi revelado na terça-feira 13, nos Estados Unidos.
A falsária da maratona
Em 21 de abril de 1980, num tempo ainda sem fotografias digitais e sem internet, a americana de origem cubana Rosie Ruiz enganou meio mundo na maratona de Boston. Vitoriosa, subiu ao pódio para receber a medalha de ouro. Dias depois, com base na denúncia de pessoas que acompanharam a prova pelas ruas da cidade e em depoimentos de outros competidores, além da análise minuciosa de 10 000 imagens do trecho derradeiro da disputa, revelou-se uma monumental farsa: Rosie correra apenas o quilômetro e meio final dos 42,1 quilômetros regulamentares. Entrara escondido, sem que ninguém percebesse. O truque começou a ruir quando uma repórter lhe fez uma pergunta sem resposta, ao indagar como conseguira terminar a maratona com o tempo de duas horas e 31 minutos se até aquele momento nunca correra abaixo da marca de duas horas e 56 minutos. Reduzir a marcha em 25 minutos era espantoso e impossível, como se descobriria. Rosie morreu de câncer em 8 de julho, em Lake Worth, na Flórida, onde vivia, mas a notícia só foi divulgada na semana passada. Ela nunca devolveu a medalha de Boston. Tinha 66 anos.
Os mortos não falam
Discretíssimo e imensamente rico, o americano Jeffrey Epstein circulou à vontade em meio aos poderosos dos EUA durante décadas, entre eles Donald Trump e Bill Clinton. Em 2008, foi preso, acusado de abuso sexual de menores. Recebeu uma pena leve, cumpriu-a e submergiu. Em julho passado, voltou a ser preso. Em 10 de agosto, foi encontrado morto na cela, enforcado. O suposto suicídio de quem tinha muito ainda a revelar fez brotar uma lista de teorias conspiratórias. Quem teria mandado matá-lo? “Foi Hillary”, “foi Trump”, “foi o serviço secreto britânico”. Ninguém sabe o que aconteceu. As investigações da morte de Epstein continuam — e também as dos crimes cometidos por ele.
Publicado em VEJA de 21 de agosto de 2019, edição nº 2648