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Censura é outra coisa

A exemplo do que fez em outros países, Facebook fecha acordo com agências de checagem brasileiras para reduzir poder de fogo das fake news antes da eleição

Por Edoardo Ghirotto
Atualizado em 30 jul 2020, 20h19 - Publicado em 25 Maio 2018, 06h00

Diante das dificuldades de distribuição da revista decorrentes da greve dos caminhoneiros, VEJA, em respeito aos seus assinantes, está abrindo seu conteúdo integral on-line.

Bullying virtual - O MBL incitou a perseguição a checadores de fatos (./.)

Uma vacina contra a gripe causa “surto mortal” nos Estados Unidos. A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia pediu a prisão imediata da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Marina Silva assinou carta em defesa do casamento gay. As afirmações acima, todas falsas, registraram, somadas, quase 300 000 in­terações no Facebook antes de ser esclarecidas por agências de checagem de fatos entre os dias 15 e 22 de maio. As postagens com os desmentidos fazem parte de um acordo anunciado no dia 10, entre a empresa de Mark Zuckerberg e as agências brasileiras Lupa e Aos Fatos, para reduzir o alcance das fake news na rede social. Na quinta-feira 24, o Facebook comunicou que a agência France-­Presse se juntou ao grupo.

Agora, ao detectarem uma notícia falsa, as agências devem reportar o link ao Facebook, cujo algoritmo está programado para reduzir a exposição da mentira na linha do tempo de seus usuários — mas não excluí-la da rede. A postagem também não poderá mais ser “impulsionada” — nome dado ao ato de pagar ao Facebook para aumentar o alcance de uma informação. Em seguida, um artigo que alerta para o conteúdo falso é produzido pela mesma agência e compartilhado nas redes sociais. Isso permite que, toda vez que um usuário postar o link falso, ele receba um aviso destacando o artigo checado. Se o mesmo indivíduo quiser ignorar esse aviso e espalhar a mentira, poderá mandar bala. Nada o impedirá. Não se trata, portanto, de uma censura, como entendem alguns, nem de uma reedição do “tribunal do povo”, criado por Hitler para condenar inocentes e estabelecer a Verdade.

Ainda assim, é um assunto delicado. O Facebook não entrou deliberadamente no terreno pantanoso que é envolver-se na divulgação daquilo que circula em sua plataforma. Zuckerberg viu-se forçado a tomar medidas anti-­fake news para sair da encruzilhada em que entrou depois que dados de 87 milhões dos usuários de sua rede foram usados pela consultoria Cambridge Analytica para produzir notícias falsas a serviço de campanhas como a de Donald Trump e a do Brexit. Ao testemunhar no Parlamento Europeu, em Bruxelas, na terça-feira 22, Zuckerberg repetiu o que diz desde que a manipulação eleitoral foi descoberta: que o Facebook está fazendo “investimentos importantes” para evitar que isso se repita e garantir a integridade das eleições no Brasil e na Índia, em 2018 e 2019.

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Uma semana depois do anúncio no Brasil, iniciativa semelhante foi divulgada na Argentina. No México e na Colômbia, a parceria existe desde o fim de março. Nos Estados Unidos, está em vigor desde dezembro de 2016, e hoje a tutela está a cargo de cinco agências: Weekly Standard, Associated Press, FactCheck.org, Politifact e Snopes. Segundo o Facebook, a prática cortou em até 80% a distribuição orgânica de conteúdos falsos. França, Alemanha, Itália e Holanda também adotaram o sistema. No Brasil, as agências Lupa e Aos Fatos foram escolhidas por ser auditadas pelo instituto americano Poynter, que avalia a transparência e o apartidarismo de seus colaboradores.

A chancela internacional às agências não as blindou de ataques de grupos desinteressados no combate às notícias falsas. O Movimento Brasil Livre (MBL), célebre por publicar conteúdo falso e perseguir jornalistas que fazem reportagens das quais o grupo discorda, divulgou postagens em que afirma que os profissionais das agências contratadas teriam viés político. Não por acaso, o MBL é um dos sites que podem ter seu alcance reduzido com o trabalho da checagem. Para o diretor de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marco Aurelio Ruediger, a medida ajuda, mas não é suficiente: “Precisamos encontrar meios de incluir também a sociedade na averiguação do conteúdo”.

Publicado em VEJA de 30 de maio de 2018, edição nº 2584

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