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Carta ao Leitor: Oportunidade perdida

Enquanto Bolsonaro emprega forças para manter ao seu lado apenas o rebanho de fiéis, outros governantes no mundo crescem em popularidade na crise

Por Da Redação Atualizado em 24 abr 2020, 10h54 - Publicado em 24 abr 2020, 06h00

Na impressionante e improvável arrancada do baixo clero do Congresso para a rampa do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro ganhou músculos — e a faixa presidencial — ao encarnar a bandeira de mais feroz oponente do PT. Com enorme ojeriza aos anos de corrupção desenfreada e equívocos econômicos da dupla Lula-Dilma Rousseff, parte considerável de seus eleitores decidiu ignorar as ideias radicais e o pífio histórico parlamentar por enxergar nele o candidato com maiores chances de tirar a esquerda do poder. Principal combustível na campanha, o clima bélico, infelizmente, não foi deixado de lado — nem mesmo em um momento crucial como este em que o país precisa de união e ações coordenadas. Numa aposta política extremamente arriscada, Bolsonaro continua a jogar suas fichas na divisão, preferindo menosprezar o poder de estrago do coronavírus e culpando a imprensa, o STF, o Congresso e governadores, que adotaram medidas sensatas contra o vírus, de ser responsáveis por uma histeria que levará ao caos econômico.

A última presepada presidencial ocorreu com a participação e o discurso de Bolsonaro numa manifestação que pedia a volta do regime militar e do AI-5. Mais uma vez, ele revelou seus instintos mais primitivos, com flertes de autoritarismo, e se comportou como um candidato, em campanha permanente com vistas a 2022. Trata-se de um roteiro que Bolsonaro vem seguindo desde que foi eleito. Reconheça-se, com algum sucesso. As bravatas demagógicas e antidemocráticas têm como objetivo apagar as crises que ele próprio cria (a demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta foi a mais recente), manter acesa a chama do núcleo duro de seus apoiadores e livrá-lo de sua verdadeira responsabilidade: a condução da nação. Depois do papelão, vem sempre o mesmo desfecho. O presidente pede desculpas e recua.

Além da insanidade na retórica e da falta de sensibilidade em relação à gravidade da situação, esse rasteiro cálculo político revela uma total ausência de compreensão do papel de um líder na janela de oportunidade que se abriu. Enquanto Bolsonaro emprega forças para manter ao seu lado apenas o rebanho de fiéis (veja a reportagem na pág. 36), outros governantes no mundo crescem em popularidade ao unir seus povos ao redor de uma causa: o combate ao coronavírus. Mesmo quem largou mal no enfrentamento da doença ou já andava com o ibope combalido por outros motivos, caso do primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte e do presidente Emmanuel Macron, aproveitou a chance para recuperar o apoio perdido. Ao insistir no caminho do tensionamento estrutural permanente, o presidente brasileiro se mostra um político menor, agindo com a mesma lógica miúda dos tempos de parlamentar. Neste momento, assim como seu ex-ministro Mandetta, ele poderia surfar na casa dos 70% de aprovação. Lamentavelmente, preferiu o atalho conhecido: o do diversionismo.

Publicado em VEJA de 29 de abril de 2020, edição nº 2684

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