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Carta ao leitor: O triunfo do atraso

Michel Temer pode ser inocente, mas a decisão dos deputados de impedir que seja investigado não honra um país que mal começou a tentar higienizar a política

Por Da Redação Atualizado em 5 ago 2017, 06h00 - Publicado em 5 ago 2017, 06h00
CAPA DE MAIO - Dias depois da bombástica delação de Joesley Batista, VEJA retratou a situação política: Temer estava à beira do abismo, situação que ele agora reverteu
CAPA DE MAIO – Dias depois da bombástica delação de Joesley Batista, VEJA retratou a situação política: Temer estava à beira do abismo, situação que ele agora reverteu (VEJA/VEJA)

O presidente Michel Temer viveu seu pior momento no governo assim que veio a público a bombástica delação do empresário Joesley Batista. Naqueles dias intensos, Temer chegou mesmo a estar perto de deixar o poder, como retratou VEJA em sua capa datada de 31 de maio. Agora, dois meses depois, conseguiu reverter as expectativas de que seu governo estava chegando ao fim e empla­cou uma vitória robusta: com o apoio de 263 deputados, sal­vou-se de uma investigação no Supremo Tribunal Federal, durante a qual ficaria afastado do Palácio do Planalto — para onde, provavelmente, jamais retornaria. É robusta sua vitória porque Temer fez o pêndulo político oscilar de um extremo ao outro, começando no risco de cair e terminando no triunfo de manter-se no poder, e também porque consolida sua posição única como um exímio intérprete dos anseios dos parlamentares — dos legítimos e dos ilegítimos.

E é justamente aí, na capacidade de interpretar os anseios ilegítimos dos parlamentares, que a consagração de Temer na quarta-feira passada ganha os contornos de uma vitória do atraso. Na votação a favor do presidente, deu-se uma aliança informal entre três atores. Primeiro, uma população apática que não vai às ruas nem bate panelas, aparentemente descrente de sua força para resgatar a política nacional da bandalheira atual. Segundo, um mercado, essa entidade tão imprecisa quanto poderosa, que deseja, com toda a razão, estabilidade política e crescimento econômico — mas que, iludido pelos próprios desejos, achou que não fazer nada era o melhor a fazer.

O terceiro ator é, evidentemente, a vasta parcela da Câmara dos Deputados que votou com Temer porque, desgraçadamente, só pensa em salvar-se da Lava-Jato, fartar-se nos leilões fisiológicos de cargos e verbas públicas e, para completar, ainda titubeia na aprovação das reformas das quais o país tanto precisa. Calcula-se que, entre os 263 deputados a favor de Temer, mais de uma centena responde a inquéritos ou já virou réu em processos no Supremo Tribunal Federal. É uma turma da pesada.

A tríplice aliança — entre o eleitor apático, o mercado à sorrelfa e a banda podre do Parlamento — representa um passo atrás naquilo que pareciam conquistas recentes: a intolerância ao assalto à máquina estatal e a exigência crescente de ética na política. O presidente Michel Temer pode ser inteiramente inocente do que o acusam os procuradores, mas a decisão dos deputados de impedir que seja investigado, apesar de suspeitas alarmantes, não honra um país que mal começou a tentar higienizar a política.

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Nesta edição, a psicóloga Rosely Sayão incorpora-se ao time de colunistas mensais de VEJA. Seu texto de estreia versa sobre a importância de tratar as questões de família com mais diplomacia.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2017, edição nº 2542

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