Carta ao Leitor: O papel da polícia
Instituições fortes e saudáveis não são aquelas que reúnem um cartapácio de poderes, mas as que cumprem sua missão
No Brasil estatal, é comum que as instituições públicas disputem entre si a atribuição de mais e maiores competências apenas para aumentar seu quinhão de poder. Na semana passada, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal decidiu que acordos de delação premiada podem ser celebrados, dentro de certos limites, tanto pelo Ministério Público quanto pela Polícia Federal. As duas instituições, que desgraçadamente estão habituadas a se engalfinhar na briga por espaço e mando, queriam o direito de fazê-los. E o Ministério Público queria o direito de fazê-los com exclusividade.
Instituições fortes e saudáveis não são aquelas que reúnem um cartapácio de poderes, mas as que cumprem sua missão. Essa é uma verdade cândida, que muitas vezes escapa aos integrantes de instituições públicas. A Polícia Federal, agora autorizada a trabalhar com delações, ganha mais uma atribuição, e tal notícia só se revelará positiva se a corporação se mostrar à altura de sua nova tarefa. Nos últimos anos, a PF tem conquistado mais respeito da opinião pública, sobretudo por seu desempenho na Lava-Jato. Mas é preciso evitar que o aplauso seja interpretado como salvo-conduto para o que der e vier.
Em sua primeira entrevista exclusiva desde que tomou posse, Fernando Segovia, o novo diretor-geral da Polícia Federal, faz críticas à instituição nas Páginas Amarelas desta edição de VEJA — e esse tom de autoavaliação desabrida é bem-vindo. A Polícia Federal comete erros, e, sendo o que é, seus erros têm longo alcance. Tem errado, por exemplo, quando faz operações espalhafatosas, sobretudo em processos que correm sob segredo de Justiça, como aconteceu recentemente num caso em Minas Gerais. Tudo indica, igualmente, que cometeu um equívoco de consequências trágicas no episódio da prisão do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, que acabou por suicidar-se.
Em uma democracia estável e justa, é fundamental que a polícia seja ativa, independente, republicana. Que seja bem equipada e bem treinada. Acima de tudo, é fundamental que cumpra sua missão sem excessos de nenhum tipo.
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Criada por Jeff Bezos em 1995, a princípio como uma livraria on-line, a Amazon tornou-se um gigante mundial do comércio digital. Começou suas operações no Brasil no fim de 2012 vendendo apenas livros digitais. Hoje também oferece livros no tradicional formato em papel. Desde a última edição, VEJA passou a incluir a Amazon entre suas fontes para a elaboração da lista de livros mais vendidos no país. Ela se junta a outras dez livrarias de alcance nacional, compondo um retrato abrangente do mercado livreiro do país. Os números da Amazon incorporam uma novidade à lista: representam a soma de livros digitais e físicos. Afinal, um livro, no papel ou na versão digital, é ainda a mesma obra.
Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2017, edição nº 2561