Carta ao Leitor: Mentes afiadas
Os seis colunistas de VEJA estão empenhados, cada um a seu modo e com seu estilo, em decifrar os sinais emitidos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro
Nesta edição, VEJA oferece um painel excepcional da qualidade de seus colunistas e da perspicácia com que acompanham os acontecimentos no Brasil e no mundo. Além disso, o conjunto dos textos que eles publicam nesta semana exibe um traço comum: para a felicidade do leitor, os seis colunistas estão empenhados, cada um a seu modo e com seu estilo, em decifrar os sinais emitidos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. A leitura é enriquecedora.
Focados na análise política, Dora Kramer e Roberto Pompeu de Toledo procuram dissecar a essência do comportamento do presidente. Dora destaca os sistemáticos recuos nas declarações ou decisões de Bolsonaro e não os atribui a “um fiel convertido ao altar da autocrítica”, mas sim ao triunfo da ignorância. Pompeu de Toledo usa sua pena magistral para mostrar os numerosos paralelos entre dois presidentes: “Jânio Quadros implicava com biquíni e Jair Bolsonaro, com os gays. Jânio distribuía bilhetinhos e Jair, tuítes. Jânio não gostava de negociar com o Congresso e Jair, idem”.
Com um olhar voltado para a economia, J.R. Guzzo abusa de sua simplicidade inigualável para chamar a atenção do leitor para o desempenho do ministro da Economia, Paulo Guedes, que, apesar do bombardeio a que é submetido o tempo todo, “está mais inteiro hoje do que quando começou, quatro meses atrás”. E explica as razões. Sérgio Lazzarini reflete sobre a irrefreável tendência dos governos de direita e de esquerda de intervir nas estatais — e, com o didatismo de sempre, aponta o erro essencial de Bolsonaro ao julgar que uma estatal é do governo, quando na verdade é da sociedade.
Maria Laura Canineu aproveita os elogios que o deputado Eduardo Bolsonaro fez ao governo da Hungria, país que visitou recentemente, para denunciar a repressão à imprensa, à Justiça, às ONGs, às vozes de oposição — e lembrar que não é disso que o Brasil precisa. Fechando o conjunto com brilhantismo, José Francisco Botelho não escreve a palavra “governo” nem o nome “Bolsonaro”. Seria necessário fazê-lo? Ele discorre sobre a esclarecedora atualidade do kitsch na política.
Publicado em VEJA de 8 de maio de 2019, edição nº 2633