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Carta ao Leitor: Ganha o Brasil

Áreas específicas da economia começam a religar os motores e dar os primeiros sinais de retomada

Por Da Redação 23 out 2020, 06h00

Durante semanas, divergências severas marcaram o debate sobre a estratégia a ser adotada pelo governo na retomada econômica pós-pandemia. De um lado, de forma correta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pregava medidas austeras, que não comprometessem as contas públicas e o teto de gastos. Do outro, alguns setores da administração federal pareciam defender, sem o mesmo respeito aos limites orçamentários, um investimento pesado em obras de infraestrutura e um reforço dos programas de amparo social. Para piorar, Guedes travava uma batalha com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, provocada mais por egos inflados do que pela diferença de visões no caminho a seguir. Os sinais antagônicos emitidos pelo presidente Jair Bolsonaro, que ora oscilava entre o apelo eleitoral das medidas “fu­ra-teto”, ora ponderava os riscos desse caminho de gastança, não ajudavam nem um pouco. E as incertezas foram se agravando, deixando investidores e empresários ressabiados e pessimistas com os rumos da economia.

Tal situação mudou radicalmente nos últimos dias, com um amplo esforço de entendimento entre as partes envolvidas. Arestas foram aparadas e ambiguidades, dirimidas. O ministro Rogério Marinho, visto por alguns como o líder da ala dos “fura-teto”, deixou claro que não é contra a responsabilidade fiscal e parou de polemizar com Paulo Guedes, recolhendo-se. Em paralelo, se havia dúvidas quanto ao prestígio do “Posto Ipiranga” no Planalto, Bolsonaro dissipou os rumores, fazendo questão de demonstrar nas últimas duas semanas seu apoio incondicional às ideias do ministro da Economia. Na mesma direção, a costura de um acordo de paz entre Guedes e Maia, sinal de que Executivo e Legislativo podem caminhar para o mesmo objetivo, foi decisiva para desanuviar as tensões que deixavam os mercados à beira de um ataque de nervos. Conduzidos tais acertos, o cenário só não é melhor em decorrência do adiamento das decisões mais relevantes para o período posterior às eleições (um pedido do próprio Bolsonaro). Nesse momento, temos a promessa de que a agenda econômica será tocada, mas isso ainda inquieta e desperta cautela em parte do mercado quanto à implementação de medidas fundamentais, como o pacto federativo e as reformas administrativa e tributária. E se houver algum retrocesso ou mudança inesperada de rumo depois do pleito? E se Maia e Guedes brigarem de novo? Como São Tomé, o apóstolo cético, tais investidores e empresários querem ver para crer. E não deixam de ter razão com essa postura.

Apesar disso, ainda que sem a execução dos acordos alinhavados em Brasília, áreas específicas da economia começam a religar os motores e dar os primeiros sinais de retomada. Alguns setores profundamente atingidos pela pandemia, como as indústrias automobilística e de vestuário, já demonstram a chamada recuperação em V, tão desejada e citada por Guedes. O mesmo acontece em segmentos como a indústria de plástico e papelão, matérias-primas utilizadas em embalagens — um forte indicador do reaquecimento das vendas de produtos de consumo. A reportagem publicada a partir da página 48 faz um mergulho nas engrenagens desse círculo virtuoso, que se alia ao bom desempenho de áreas estratégicas como o agronegócio, mostrando que é possível, sim, crescer com responsabilidade, sem recorrer a anabolizantes artificiais. Para que esse movimento ganhe empuxo, no entanto, faz-se necessária a lógica da convergência, do entendimento, dissipando-se as desconfianças e as pequenas vaidades. Com isso, todos — Bolsonaro, Guedes, Maia, Marinho — ganham. Mas, acima de tudo, ganha o Brasil.

Publicado em VEJA de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710

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